• Personagens içarenses é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

Personagens içarenses é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

03 Out, 2023 09:41:37 - Artigo

Içara (SC)

Todas as cidades tem as figuras humanas que marcam a existência por algum motivo. Às vezes são pessoas errantes, que vivem perambulando sem endereço fixo. Outras vezes são exóticos ou fanfarrões, que deixam gravados na memória do povo a passagem por entre a população.

Içara (SC) também tem as figuras que nos despertaram curiosidades e até carinhos em nossa infância. Hoje vou falar de Valdevino, natural de Araranguá (SC), que nasceu durante uma ofensiva do navio Itapemirin, àquela Freguesia.

Marechal Floriano Peixoto querendo se legitimar ao poder como Presidente do Brasil, vasculhou Santa Catarina e arrasou a todos que mostrassem simpatia pelo recém deposto Império Brasileiro. E nesse conflito, sentindo o tiroteio que antecedeu a várias degolas de pessoas simples e desinformadas como os moradores de Morro Agudo, Valdivino manifestou a vontade de vir ao mundo.

Sentindo as dores do parto, a mãe de Valdevino foi removida para o meio da floresta, enquanto o marido foi procurar uma parteira. A demora do parto e o fato que ser ainda prematuro, fez com que o menino sofresse algumas sequelas neurológicas. Criou-se com muito cuidado dos pais e irmãos. Depois de órfão, Valdevino passou a ser andarilho. Viajava à pé por toda a vizinhança, até que aprendeu a embarcar no trem e de carona ia mais longe.

Era um rapaz inofensivo, brincalhão e afetuoso. Mas se alguém zombasse dele, ficava descontrolado e era capaz de medir forças com o troçador. Até que em uma das viagens, um garoto fez zombarias com Valdevino e ele empurrou-o do vagão, causando a morte do garoto. A polícia levou-o preso e, segundo ele, apanhou muito de borracha, ainda tinha cicatrizes; e passou muito tempo preso. Depois, vendo o estado intelectual, resolveram devolver-lhe a liberdade. Então não viajou mais de trem, mas não deixou as idas e vindas, sempre em suas visitas.

Trazia às costas um saco de roupas de cama e de vestir. Presa na cintura, trazia uma caneca esmaltada para tomar o café. E se ganhava caramelos e biscoitos, guardava para dar para as crianças que considerava sobrinhos. Era primo de minha avó paterna, mas era tão familiarizado conosco, que parecia ser um tio avô querido.

Assim convivi com essa figura humana curiosa por alguns e protegida por todos.

Onde ele ia, era alimentado, as mulheres lavavam as roupas e cuidavam do asseio dele. Até que veio a velhice. Encontrei-o no asilo São Vicente de Paula, em Criciúma (SC), atendendo pelo nome de Vavá. Logo que me viu ele falou: Como vai a senhora dona madrasta e começou a cantoria que costumava fazer quando chegava em nossa casa. “pra me casá a minha mãe me prometeu um burro branco/ depois de me ver casado, meu filho burro tá manco. Prá me casá a minha mãe me prometeu uma tigela/depois de me ver casado, partiu-me a cara com ele.” Lá mesmo, cuidado pelos funcionários daquele casa de acolhida, o Vavá fez a partida para a eternidade.

O tempo passou e fui convidada para um curso em Açores, Portugal. Foi quando ouvi a música da chamarrita mandada, na ilha do Pico, que eu revivi o Valdevino cantando, enquanto esperava secar as suas roupas que minha mãe lavava. Era a mesma letra da segunda estrofe da moda de Valdevino.

Coincidências muito interessante...

REDAÇÃO JINEWS
Postado por REDAÇÃO JINEWS

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