Personagens içarenses -parte 3 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

Içara (SC)

O personagem desta terceira fase é Antônio Pedro Cândido, filho de Pedro Polícia, ou seja, Pedro Antônio Cândido. Pedro PolÍcia deixou a função de cobrador de impostos na Barra do Torneiro, a cancha de corridas de cavalos, o paiol de farinha, a escola e o comércio para viver em plena floresta, na localidade de Ausentes, em Içara (SC). Uma localidade que conheceu ao buscar madeira para a construção da ponte da Barra do Torneiro, ainda no período Imperial.

E em sociedade com José João Teodoro, construíram as duas primeiras moradas. E ali, eles formaram um povoado com todas as possibilidades de vida social: residências, engenhos de farinha de mandioca e de cana-de- açúcar, salão de baile, casa de comércio, madeireira, selaria, olaria e escola. Para os empreendimentos eram oferecidos terras para os corajosos empreendedores.

Pedro PolÍcia era uma espécie de capitão e estendia os domínios rumo à Araranguá (SC). Até que abandonou a família, esposa e dois filhos e foi viver na Município araranguaense com uma jovem mulher. Então, o filho, Antônio Pedro Cândido tomou a liderança dos negócios e a localidade continuou a progredir.

Tratava a todas as pessoas com muita gentileza e não se cansava de ajudar aos mais necessitados. Fez a entrada de muitas posses em terrenos abandonados por antigos posseiros e repassou aos amigos, sempre prevenindo de que regularizassem a escritura. Ele passava um recibo manuscrito em um papel qualquer, que seria o documento para dar entrada a escritura. E esse recibo era validado pelo cartório de Cocal. Mas a maioria das pessoas não dava importância e acabaram por perder ou ter que comprar as terras de José Teixeira Fernandes, o último requerente das terras devolutas das sesmarias existentes no território, hoje içarense. Foi nesse tempo que o povo desinformado acabou perdendo o chão e migrando para lugares ermos e improdutivos. Muito triste!

Mas o tempo passou e Antônio Pedro Cândido sentiu a ingratidão de pessoas a quem ele ajudou com espontaneidade e se tornaram seus algozes. Pretestato Cabreira Pereira foi um dos moradores que veio para Ausentes em um terreno franqueado pelo pai. Tornou-se um grande empresário. Depois do falecimento de Antônio Pedro Cândido e, com o evento da criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), favorecido por um funcionário da Prefeitura Municipal de Içara (SC), legalizou uma grande quantidade de terras de compadres e amigos que não se deram ao trabalho de registrá-los em escrituras. A posse não era a certeza de seus direitos. Quem não tinha escritura registrada não era dono verdadeiro.

Com a mulher acamada por longo tempo, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) , Antônio Cândido passou a andar pelas casas de vizinhos, parentes e amigos. Por onde passava escrevia versos de pasquim e dizia que iria publicá-lo. Muitas vezes declarou-se candidato a prefeito de Ausentes para lutar pela comunidade. Inclusive, em uma das falas, comprometeu-se a trazer uma linha férrea, que daria diretamente na Praia do Rincão. Se a pessoa que estivesse lhe ouvindo o apoiasse, ele tecia louvores na pandorga, como dizia de seus escritos. Mas se risse ou contrariasse os planos dele recebia versos escrachados na pandorga. E por alguns dias ele ia de casa em casa lendo a pandorga para as pessoas saberem do desagrado. Era o alzheimer se manifestando e naquela época, as pessoas falavam: Está caduco, ou está com o juízo fraco.

Viúvo, vivendo com uma de suas filhas também viúva, esse herói içarense faleceu e hoje, quem o conheceu vê que muitas profecias foram realizadas: a prefeitura foi para a vila de Içara, a ferrovia não passou pela comunidade de Audentes, mas a rodovia que dá acesso ao Rincão Sul passa no trajeto em que ele mediu as terras para a tão sonhada ferrovia. Em sua homenagem, esse trecho da rodovia leva o seu nome: Rodovia Antônio Pedro Cândido.

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Postado por REDAÇÃO JINEWS

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