• Personagens içarenses - parte 6 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

Personagens içarenses - parte 6 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

03 Dez, 2023 20:27:28 - Artigo

Içara (SC)

Antigamente tudo era feito manualmente. Casa de moradia e casa de engenho eram cortadas as árvores da floresta e com topiador, iam abrindo a madeira para fazer as tábuas. Tudo no braço e na força motora do homem. Até mesmo os montes e as engrenagens, que moviam os engenhos de farinha de mandioca e de cana-de-açúcar, eram feitas em madeira. Mas a criatividade e a coragem se sobressaiam e grandes obras foram feitas nesse tempo. Criatividade nunca faltou ao ser humano.

Naquele tempo, tudo estava coberto pela floresta. Até mesmo as praias eram guardadas pela floresta e uma vegetação característica, que o homem europeu tratou de derrubar para a construção de suas moradas, e o plantio das roças. E essas derrubadas foram mudando a geografia do meio ambiente. Hoje seria praticamente impossível descrever nossas localidades daquele época. Mas os registros orais e os mapas nos dão a dimensão de nosso município atual, com algumas características do passado.

E nesse ambiente natural estava a população, que teve um crescimento vertiginoso nesse tempo. Alguns dos habitantes viveram excentricamente como se estivessem além do tempo. E esses personagens me dão muito prazer em registrá-los. O tempo apagará os feitos e os fatos da época de vida, mas o registro escrito sobreviverá para a posteridade.

Hoje vou falar de Moisés Patrício. Talvez seja muito pouco conhecido pelo contexto em que viveu, mas deixou algo memorável para ser relembrado.

Seu Moisés era filho de Manoel Patrício. Em 1982, seu pai veio do costão da serra para morar no Faxinal. Veio trabalhar na lavoura, plantar mandioca e produzir a farinha. Nesse ano ele produziu 500 sacas de farinha de mandioca e por aqui ficou, fez família e nunca mais voltou. Era um bom carpinteiro e ajudava a montar os engenhos. Fazia qualquer peça para o funcionamento de um engenho. E assim, quando não estava na roça, estava trabalhando com alguém que precisasse de seu trabalho.

Como Seu Moisés viveu em um ambiente de trabalho e retidão de vida, o procedimento foi também de uma vida simples e de trabalho. Bem cedo aprendeu o ofício do pai, mas foi além na criatividade. Era carpinteiro, alfaiate, sapateiro, celeiro, agricultor e pescador. E do Faxinal passou a residir em Barra Velha, onde a colônia de pescadores era muito ativa. Ali criou os filhos e vivia modestamente com a família. Ao lado da casa uma outra casinha onde funcionava a oficina. E dali saía desde sapatos e arreios para montarias, até o mais estranho invento. Foi ali que eu conheci a ultima criação - um avião. É ...seu Moisés passou a fabricar um avião usando madeiras dali mesmo, entre os vários recortes de alumínio que ele fez nos objetos de casa: a banheira, a bacia de lavar a louça e até mesmo panelas, ele recortou para a construção do avião. Isso deixava a esposa de cabelo em pé. Mas tudo ele fazia uma troca. Para o banho e para lavar as louças ele fez gamelas muito caprichadas, a panela foi substituída por uma panela de ferro. Com o motor para impulsionar o avião foi feito diversos experimentos e o avião chegou a se movimentar pelo terreiro, porém nunca decolou. Mas seu invento foi muito comentado e eu, ainda adolescente, achei muito criativo.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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