• Personagens içarenses - parte 5 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

Personagens içarenses - parte 5 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes

09 Nov, 2023 14:35:36 - Artigo

Içara (SC)

Era uma mulher miúda, sorridente e onde ia levava uma bolsa muito grande. Eu ficava intrigada com o tamanho da sacola e estava sempre ajudando a carregá-la, quando a encontrava. Cumprimentava-nos sorridente e, a convite de minha mãe, entrava e sentava para uma interminável conversa. Chamava a minha mãe de comadre e me tomava a bênção, chamando-me de afilhada, por isso queria que eu a chamasse de Dindinha, diminutivo carinhoso de madrinha. Como eu conhecia minhas madrinhas, eu nunca acostumei a chamar-lhe de Dindinha, chamava educadamente de dona Rosa.

Dona Rosa Machado parecia que andava a perambular de lá para cá. Mas na verdade dona Rosa prestava atendimento as muitas comadres, que ajudou-as quando parturientes. Logo que ela sabia de uma gravidez, vinha, gentilmente, fazer visitas, até o dia do parto.

Casada e com filhos, dona Rosa nunca deixou de dar assistência as mulheres da zona litorânea de Içara (SC). Como dizia, nasceu com o dom de ajudar a trazer as crianças ao mundo e seguia a vocação com atenção e amor. Na bolsa trazia alguns instrumentos necessários e uma muda de roupas para se fosse preciso pernoitar lá mesmo. O parto poderia ser demorado, a criança era asseada e vestida por ela e, se precisasse, preparava com carinho o caldinho de galinha a mamãe assistida por ela. Uma doação total e um amor incondicional para com a mamãe.

Iniciou o trabalho apenas com a intuição vocacional. Mas quando foi acompanhar o parto da filha que estava morando em Porto Alegre (RS), foi chamada pela assistência médica a fazer um curso. Então, frequentou com aproveitamento o curso de parteira e teve concedido o diploma. Com muito orgulho ela falava da habilitação e da licença para praticar o parto e aplicar a injeção anti-hemorrágica. A hemorragia após parto era o principal motivo de morte das parturientes. E dona Rosa orgulhava-se de nunca haver perdido uma comadre nos atendimentos.

Por aconselhamento da formação de parteira, quando sentia que o caso requeria uma cesariana, ela já encaminhava a parturiente ao hospital. Por isso era tão conhecida pelos médicos.

Vive, humildemente, a parteira de duas gerações em Balneário Rincão (SC). o marido e os

filhos pescavam e faziam uma pequena lavoura em terras arrendadas. Era a farinha de mandioca que completava a refeição, naquela época. E dona Rosa, nas folguinhas da tarde estava a visitar as comadres e a paparicar os afilhados. E sempre repetia, antes que a tua mãe te visse, eu te vi primeiro, quando te aparei para que viesses ao mundo.

Dona Rosa Machado viveu para amar. Generosa, honrada e cheia de fé, nos ajudou a vir ao mundo, acompanhou nosso crescimento e viu nascer dois de meus filhos. Embora já com o hábito de fazer o pré-natal e ter os filhos no hospital, ela tinha muito carinho pelos afilhados netos. Estava sempre pronta a ensinar as simpatias para as cólicas, os chazinhos para curar a icterícia, os choros noturnos e os cuidados com a amamentação.

Anônima para a sociedade atual, dona Rosa Machado é um ser especial que passou por Içara (SC) como uma enviada de Deus para cuidar das mulheres de seu tempo. Uma época de recursos médicos inexistente. Mas uma fase onde a fraternidade estava sempre presente.

À dona Rosa, a minha eterna gratidão.

REDAÇÃO JINEWS
Postado por REDAÇÃO JINEWS

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