Pelo Estado entrevista Isabel Baggio, presidente do Banco da Família e ABCRED
Florianópolis (SC)
A empresária Isabel Baggio, uma das mais influentes lideranças do Brasil na área das microfinanças, foi reeleita presidente do Conselho de Administração do Banco da Família, instituição de microfinanças fundada em Lages em 1998 e que figura como uma das maiores do Brasil. Ela está no comando da instituição desde a fundação e terá um mandato de mais três anos.
Em entrevista à Coluna Pelo Estado, Isabel explicou sobre como o Banco da Família vem atuando para garantir mais oportunidades e qualidade de vida a milhares de famílias catarinenses.
Pelo Estado - Como começou a história do Banco da Família.
Isabel Baggio - O Banco da Família nasceu em 1998, em Lages, num cenário de depressão econômica na região. Foi por iniciativa das mulheres, que atuavam na Associação Comercial de Lages, e queríamos de alguma forma ajudar a comunidade por meio de acesso ao crédito. Criamos um fundo e, por meio dele, passamos a financiar algumas empreendedoras. Assim nasceu o Banco da Família, que na ocasião se chamava Banco da Mulher. Hoje, estamos presentes em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná e já somos uma das principais instituições de microfinanças da América Latina.
Pelo Estado - Como o microcrédito e as microfinanças podem ajudar no desenvolvimento de comunidades vulneráveis?
Isabel Baggio - A história provou que pessoas em situação de vulnerabilidade têm enormes dificuldades de conseguir crédito para empreender, para reformar sua casa, para pagar a escola do filho, para viver com dignidade. Então, oferecer essa possibilidade, da pessoa gerar renda, garantir seu sustento e de sua família, tem uma força poderosa. O trabalho das instituições mostra que o microcrédito tem grande impacto na comunidade, especialmente aquelas mais afastadas das políticas públicas e do sistema financeiro tradicional.
Pelo Estado - Qual a posição do Banco da Família no universo das microfinanças?
Isabel Baggio - O Banco da Família conquistou a classificação como a terceira melhor entidade de microfinanças do mundo no ranking da MicroRate. Ao mesmo tempo, obteve 4,5 estrelas na avaliação da atuação social, ficando entre os 5% que atingiram essa classificação em todo o mundo. Isso mostrou que é possível, sim, conciliar a atuação social responsável com solidez financeira. Nós acreditamos que governança, preocupação ambiental e atuação social têm força para impulsionar os negócios.
Pelo Estado - Existe um olhar para as microfinanças no Brasil? O que falta para essa estratégia ser mais abrangente?
Isabel Baggio - O Brasil está muito atrás ainda de outros países da América Latina, como o Paraguai, Peru e Colômbia, quando o assunto é microfinanças. Temos uma burocracia muito grande, uma máquina gigante que não consegue atender às enormes demandas da população que está à margem do sistema tradicional. Precisamos de fundos garantidores, de mais recursos para investimentos e crédito e, principalmente, de uma legislação adequada aos tempos que vivemos e as necessidade do mercado.
Pelo Estado - Você assumiu recentemente a ABCRED. Qual o papel da entidade?
Isabel Baggio - A ABCRED representa as instituições de microfinanças e microcrédito que trabalham com o microcrédito produtivo orientado, uma modalidade que enxerga o tomador do recurso como alguém que pode contribuir se tiver apoio. Nesse sentido, entendemos o contexto familiar e a possibilidade de gerar renda antes de disponibilizar o empréstimo. Isso reduz drasticamente a inadimplência e torna os clientes mais próximos das instituições. Eles realmente veem as instituições de microcrédito como parceiras. Na ABCRED, nosso desafio à dar visibilidade ao setor e articular políticas públicas em que as microfinaças orientadas tenham maior protagonismo.
Pelo Estado - Qual o momento atual do Banco da Família e o que a instituição projeta para o futuro?
Isabel Baggio - O Banco da Família está numa fase de consolidação das operações já existentes, com fortalecimento em todas as praças e, em alguns casos, ampliação de estruturas e de pessoal. Também estamos investindo bastante em tecnologia, visando trazer inovação para o nosso setor, apostando em parcerias que façam sentido e testando novos produtos e serviços. Queremos ampliar nossa atuação no mercado de energia renovável e em pautas ESG. Sustentabilidade está no nosso DNA.
Pelo Estado - Como o Banco da Família ajuda no desenvolvimento da economia catarinense?
Isabel Baggio - Em sua história de mais de 25 anos, o Banco da Família já realizou cerca de 450 mil operações que impactaram mais de 1,8 milhão de pessoas, com liberação de quase R$ 2,7 bilhões em recursos. Os empréstimos e financiamentos acabam sendo direcionados a negócios de diversas regiões e isso fortalece a economia. Além disso, o banco faz parcerias com governos, ONGs e outras instituições para desenvolver programas de impacto social e econômico. Essas iniciativas ajudam a estimular o crescimento econômico, criar empregos e promover o desenvolvimento sustentável em Santa Catarina.
Pelo Estado - Quais os projetos e como o Banco da Família está atuando nas cidades do interior catarinense?
Isabel Baggio - O Banco da Família leva suas soluções financeiras para várias comunidades através de crédito para micro e pequenos empreendedores melhorarem e expandirem seus negócios, além de crédito para apoiar a agricultura familiar com financiamentos para compra de insumos, equipamentos, e melhorias na produção. Créditos para melhoria habitacional, energias renováveis, educação financeira são linhas específicas para auxiliar as cidades do interior na utilização dos recursos nessas áreas.
Pelo Estado - Qual a relação entre a instituição e o Governo do Estado? Existe alguma parceria?
Isabel Baggio - O Banco da Família faz frequentemente parcerias com governos e instituições para implementar projetos conjuntos de desenvolvimento comunitário e inclusão social. Do Governo do Estado, o Banco da Família também opera o programa "Juro Zero", que foi criado em 2011 e está ativo até hoje e beneficia a melhoria de MEI em todo o estado de SC.
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