Data de Certidão da sesmaria entre os rios Urussanga Velha e Araranguá
Içara (SC)
É assim que eu gosto de definir a data de 23 de julho de 1770, uma certidão de nascimento da sesmaria entre os rios Urussanga Velha e Araranguá. Sesmaria essa que tomou posse João da Costa Silveira, e fez de Urussanga Velha, o berço de colonização de Içara e de Balneário Rincão.
A sesmaria foi sendo povoada e partilhada com: herdeiros, meeiros de lavouras e novos donos por vendas e compras de outros proprietários. Mas a vida seguiu o seu curso e um povo se formou de nossas matrizes étnicas, dos índios, os verdadeiros donos das terras brasileiras e caldeada com novas matrizes étnicas, até aos dias atuais.
Falar de Içara e de Balneário Rincão, é sempre um prazer para mim, que tenho minhas raízes plantadas nesse torrão telúrico. E a cada aniversário sempre temos um motivo para comemorar, um agradecimento a fazer a Deus e pedir sempre pelas novas gerações, que nos sucederão. Afinal estamos aqui sempre de partida e um dia qualquer desapareceremos da paisagem da vida. Mas enquanto cá estamos, nos sentimos na obrigação de preservar nossa terra e nossa gente.
Aos que nos antecederam e nos legaram com essa vontade de cuidar de nosso ambiente, de nossa cultura, do futuro das novas gerações, demos o nome de avós. E são os nossos avós que nos deram uma dimensão de nossa completude como herdeiros da terra, que nos foi oferecida para nosso estar nessa dimensão. Por isso, quando vejo pessoas querendo deixar sua terra natal e proferir palavras tão desagradáveis, eu me sinto triste. Pessoas que dão preferência a uma vida de estrangeiros e desfazem os frutos que nossa doce e querida Içara nos oferece em troca de nosso amanho aos seus campos, de braços que fazem funcionar as indústrias, de vozes que ressoam nos altares ou nas escolas, no afã de educar para a vida e para a fé. Catequese que tivemos de nossos avós e de nossa família e nos fez cidadãos amorosos.
Mas a vida segue e o progresso transforma a geografia terrestre e humana. Muitas vezes perdemos a memória de nossas raízes. Nos perdemos no redemoinho da vida e nos desconectamos de nossos familiares. Uma perda lastimável para a continuação de nossa história de vida. Reatar essa conexão é urgente e preciso. Afinal não amamos o desconhecido, não amamos o que não sabemos e não compartilhamos esse hiato do indecifrável. Essa é a temática de nosso contexto para podermos compreender o sentido real de nossa história de vida.
Dia 23 de julho, será sempre um marco histórico, o dia em que nossa partilha territorial teve o seu documento de nascimento, a carta de sesmaria. E esse documento de nascimento, seguiu-se de seus ocupantes e colonizadores para a divulgação de uma terra habitada por indígenas brasileiros, que ofereceram aos novos habitantes o seu saber natural, especialmente as matérias primas necessárias para a sobrevivência desses imigrantes e, posteriormente a produção de uma economia que alavancou o progresso içarense.
Içara nasceu como uma promessa aos povos europeus, que buscavam o pão tão escasso em seus lugares de origem. Aqui havia a promessa da bem aventurança – “e se plantando tudo dá...”. Generosidade abastecida com seus frutos silvestres, boa água potável, muita caça e clima com temperaturas amenas, ao homem advindo de pátrias geladas e retalhadas pelas sucessivas guerras, nossa terra era um hino de amor. Aos nossos ancestrais açorianos perseguidos pelos cataclismos naturais, que tiveram seus terrenos endurecidos pelas lavas vulcânicas, era a promessa de vida.
E então, quanto mais conhecemos nossa história, mais motivos temos para homenageá-la.