Coluna de Elza de Mello - 13 de agosto/2019
Içara Nossa Terra Nossa Gente Matizes de Açorianidade (22)
Em todos os tempos houve questionamentos sobre as origens étnicas. E muitas vezes a pessoa pensa ser descendente de uma origem e na verdade a descendência pertence a outras árvores genealógicas. Com base nesta dúvida, vamos refletir um pouquinho sobre apelidos, ou sobrenomes, e a razão de ser. Você sabia que muitos brasileiros são descendentes de judeus? Pois é...e há quem tenha até medo quando se faz essa referência. Um povo para ser destacado dentre as nações precisa conhecer a identidade, buscando profundamente as raízes.
Os povos formadores do tronco racial do Brasil são perfeitamente conhecidos, como: o índio, o negro e o branco, destacando o elemento português, nosso colonizador. Mas, quem foram estes brancos portugueses? Por que eles vieram colonizar o Brasil? Viriam eles atraídos só pelas riquezas e maravilhas da terra Pindorama, do Pau-Brasil? A grande verdade é que muitos historiadores do Brasil colonial ocultaram uma casta étnica que havia em Portugal denominada por cristãos-novos, ou seja, os Judeus! E por quê? Responder esta pergunta é um tanto longa e um tanto complicada. Mas vale a pena, eu creio.
Em 1499, já quase não havia mais judeus em Portugal, pois estes tinham uma outra denominação: eram os cristãos-novos. Eles eram proibidos de deixar o país, a fim de não desmantelar a situação financeira e comercial daquela época, pois os judeus eram prósperos. Os judeus sefarditas, então, eram obrigados a viver numa situação penosa, pois, por um lado, eram obrigados a confessar a fé cristã e por outro, seus bens eram espoliados, viviam humilhados e confinados naquela País. Voltar para Espanha, de onde foram expulsos, era impossível, bem como seguir em frente, tendo à vista o imenso oceano Atlântico. O milagre do Mar Vermelho se abrindo, registrado no Livro de Êxodo, precisava acontecer novamente. Naquele momento de crise, perseguição e desespero, uma porta se abriu: providência divina ou não, um corajoso português rasga o grande oceano com a esquadra e, em abril de 1500, o Brasil foi descoberto.
Na própria expedição de Pedro Álvares Cabral aparecem alguns judeus, dentre eles, Gaspar Lemos, Capitão-mor, que gozava de grande prestígio com o Rei D. Manuel. Podemos imaginar que tamanha alegria regressou Gaspar Lemos a Portugal, levando consigo esta boa nova: – descobria-se um paraíso, uma terra cheia de rios e montanhas, fauna e flora jamais vistos. Teria pensado consigo: não seria ela uma “terra escolhida” para meus irmãos hebreus? Esta imaginação começou a tornar-se realidade quando o judeu Fernando de Noronha, primeiro arrendatário do Brasil, demanda trazer um grande número de mão de obra para explorar seiscentas milhas da costa, construindo e guarnecendo fortalezas na obrigação de pagar uma taxa de arrendamento à coroa portuguesa a partir do terceiro ano. Assim, milhares e milhares de judeus fugindo da chamada “Santa Inquisição” e das perseguições do “Santo Ofício” de Roma, começaram a colonizar este país.
Afinal, os judeus ibéricos, como qualquer outro judeu da diáspora, procurava um lugar tranquilo e seguro para ali se estabelecer, trabalhar, e criar a família dignamente. E a Terra das Primícias poderia ser o Brasil, a Terra de Santa Cruz. Não podemos esquecer que um dos projetos das grandes navegações, abraçado por Espanha e Portugal era a descoberta de um novo caminho para o Oriente e a continuação do comércio existente, principalmente para Portugal. Espanha já era uma superpotência na época e Portugal só tinha o poder da inteligência e a coragem de valentes marinheiros para vencer o bloqueio do comércio com o Oriente. Afinal Portugal era um estado novo sem raízes de sangue nobre. A Nobreza portuguesa tinham os títulos comprados ao peso do dinheiro ou das realizações de grandes feitos para a Co-roa. Ricos eram os judeus que perseguidos desde Nabucodonosor migraram pela Península Ibérica e construíram as famílias e os castelos na cidade das colinas, Lisboa. E assim a Coroa Portuguesa tentou proteger aos judeus protegendo, assim, aos seus interesses. (Continua na próxima edição).