Para novo técnico do Barça brasileiros eram preguiçosos

30 Mai, 2017 14:09:58 - Esporte

Rio de Janeiro (RJ)

Após a despedida de Luis Enrique, o Barcelona anunciou na última segunda-feira a contratação de Ernesto Valverde como novo técnico do clube. Segundo o presidente blaugrana, Josep Maria Bartomeu, ele "tem capacidade, critério, conhecimento e experiência", além de "ser um amante do futebol de base e ter um estilo como o do Barça".

Ex-atacante do próprio time catalão, que defendeu entre 1988 e 1990, ganhando uma Copa do Rei e uma Copa dos Campeões de Copas, Valverde, de 53 anos, terá sua primeira experiência como treinador de um gigante, depois de passar por Espanyol, Olympiacos-GRE, Villarreal, Valencia e Athletic Bilbao, seu último time, que comandou por quatro anos.  

Apesar de Ernesto não ser tão famoso, quem já foi treinado por ele, aliás, garante que o Txingurri ("formiga", em basco) tem tudo para dar certo no Camp Nou.

É o caso, por exemplo, do lateral esquerdo Leonardo Jesus, ex-Internacional e atualmente no Bangu, que foi treinador por Valverde no Olympiacos, da Grécia, formando uma parceria vencedora, conquistando dois títulos do Grego e dois da Copa da Grécia.

"É um excelente treinador, com trabalho tático ótimo. Ele sabe explicar muito bem o que quer do grupo. No tempo de Olympiacos, ele já demonstrava que tinha condições de chegar num time de ponta. Com ele, fui campeão grego invicto", lembra, ao ESPN.com.br.

Segundo o brasileiro, Ernesto ri pouco e é considerado muito sério no trabalho.

"Ele chegava pilhado e pedia energia e foco. Não queria muita brincadeira e exigia que a gente cumprisse à risca o que ele determinava. Os treinos dele são curtos, mas intensos. Gosta de trabalho em campo reduzido e não faz coletivo nem rachão", conta.

O novo treinador do Barça também é considerado "sortudo" na Grécia.

"Teve um jogo da final da Copa da Grécia contra o AEK que acabou 0 a 0 e foi para os pênaltis [edição de 2008/09]. Aí aconteceu algo meio absurdo: foram 34 cobranças, e nós ganhamos por 15 a 14 (risos). Até os goleiros bateram duas vezes cada, e os dois tiveram 100% de aproveitamento! Aquele título foi muito bom para o Valverde, porque era a primeira temporada dele e permitiu que ele se firmasse no Olympiacos", recorda.

O ex-atacante Ewerthon, revelado pelo Corinthians e que teve ótima passagem pelo Zaragoza na Espanha, é outro que tem certeza que Valverde dará certo no Barça. O ex-ponta, atualmente dono de uma construtora, foi treinado por Ernesto no Espanyol.

"É um cara que trabalha muito a parte tática, com um estilo muito voltado para dentro de campo e desenvolvimento da técnica dos jogadores. Ele tem muita experiência na Catalunha porque trabalhou muito no Espanyol e jogou no Barcelona também. Conhece muito do clube! Com certeza é um treinador que irá triunfar", aposta Ewerthon.

"Valverde é um técnico que se caracteriza muito pela coerência. Procura motivar o grupo e se unir muito aos jogadores, principalmente os que não jogam tanto. O ambiente de trabalho com ele costuma ser sossegado. Eu o vejo como um ser humano de boa índole e caráter", salienta.

O volante Dudu Cearense, atualmente no Botafogo, foi outro brasileiro que formou parceria de sucesso com Ernesto Valverde no futebol grego. Para o meio-campista, o novo comandante vai "voar" no comando dos craques do Barcelona em 2017/18.

"Ele já estava bem antes, mas agora acho que vai voar! Com ele, o time vai brigar por todos os títulos. É um cara que já fazia times regulares estarem sempre nas cabeças, imagina agora com um monte de feras! A maneira que a gente trabalhava parecia a do Barça, mas não tínhamos o Messi (risos). Imagina agora que ele tem", diz Dudu.

'Ele achava os brasileiros preguiçosos'

Segundo conta Dudu Cearense, quando o treinador espanhol chegou ao Olympiacos, na temporada 2008/09, o volante achou que a relação iria "azedar" de cara. Isto porque Valverde declarou publicamente que não era fã de jogadores brasileiros.

"Ele foi contratado em 2008, e, logo que chegou, me perguntou: 'Você é brasileiro?'. Ele achava que brasileiro não gostava de treinar, que era preguiçoso e chegava atrasado aos treinos. Aí falei pra ele: 'Sou, sim, e você vai conhecer um brasileiro diferente' (risos)", relata, ao ESPN.com.br.

Leonardo Jesus também teve que conquistar a confiança do treinador.

"Ele achava que os brasileiros eram todos meio doidos (risos). Foi porque ele teve problemas com alguns brasileiros antes na carreira. Mas comigo e com o Dudu era diferente. Nós cumpríamos os horários certinho, com muita disciplina. Aí aos poucos nós fomos mudando essa visão na cabeça dele", rememora.

Depois que Dudu Cearense e Valverde viraram "parças", porém, a relação fluiu.

"Eu aprendi muito com ele. Os treinos com bola dele são ótimos. A gente queria fazer trabalho físico e ele falava: 'No! Con balón' (risos). É um treinador que sempre priorizou o jogo com posse de bola e aproximação. Por isso gosta tanto de trabalhos com campo reduzido e compactação. Até mesmo na véspera dos jogos ele treinava isso", conta.

Uma das grandes influências do espanhol é a lenda holandesa Johan Cruyff.

"O destaque é o trabalho de transição entre os setores. Dava pra ver que ele tinha essa 'escola Barcelona' no jeito dele. O Ernesto foi treinado pelo Cruyff e era muito parecido. Gosta muito de apostar na posse de bola e na técnica dos jogadores. Sempre nos falava: 'Quem corre é a bola! Jogador bem posicionado não precisa correr errado'", relembra.

Dudu relata também que era bastante cobrado pelo novo técnico do Barcelona.

"Quando o time jogava mal, ele sempre me chamava de canto para ter uma conversa (risos). O Ernesto dizia que eu era o cérebro do time e tinha que ditar o ritmo. Se eu ia mal, o time ia mal, e ele me falava tudo o que eu precisava corrigir. E quando o time jogava bem ele não me chamava, só dava 'jóia' e falava 'muy bien, muy bien' (risos)", brinca.

O cearense, aliás, trabalhou com Valverde em duas passagens: 2008 a 2009 e 2010 a 2012. Entre 2009 e 2010, o espanhol voltou a seu país natal para comandar o Villarreal. Após deixar o "Submarino Amarelo", porém, retornou a Atenas para triunfar novamente.

"Nunca me esqueço do primeiro ano com ele. Quando o Valverde saiu, vieram treinadores depois e nada dava certo. Aí ele voltou e logo de cara me falou: 'Caramba, te estragaram! Vou ter que te arrumar de novo (risos)'. Comecei a fazer o que ele pedia e fiquei bom de novo na visão dele (risos). Depois disso, fiz uma ótima temporada", sorri o volante.

Dudu também conta que Valverde é ótimo "controlador das vaidades" dos boleiros no elenco.

"É uma pessoa maravilhosa, que dá atenção a todos. Joga quem tá bem, independentemente do nome. Um cara que prioriza muito o bom ambiente no vestiário. Se alguém está tumultuando, ele corta na hora. Com Valverde, não tem confusão".

O brasileiro ainda lembra que Ernesto tem trejeitos parecidos com os de Cuca, técnico do Palmeiras. "Tanto nos treinos quanto nos jogos, ele sempre ficava ajoelhado com o cotovelo na perna e a mão no queixo, lembra o Cuca (risos). É o jeitão dele", diverte-se.

Técnico também é fotógrafo profissional

Ernesto Valverde jogou como atacante por 14 anos, entre 1983 e 1997, e é técnico desde 2002, quando assumiu o Athletic Bilbao - ele era assistente do time basco desde 2001.

Em seus quatro anos afastado do esporte, porém, Valverde aproveitou para se dedicar a uma outra grande paixão: a fotografia artística. 

Neste período, ele se formou no Institut d'Estudis Fotografics de Catalunya e, anos mais tarde, lançou um livro de fotos, chamado "Medio Tempo", com várias imagens em preto e branco que fotografou entre 2004 e 2012.

Hoje em dia, porém, Valverde não consegue mais se dedicar tanto ao velho hábito.

"Quando joguei no Barcelona, já ia à escola de fotografia. Pensei seriamente em me dedicar às fotos quando me aposentasse dos gramados, mas o futebol te prende. Voltei a estudar e concluí minha formação enquanto não estava treinando, mas agora é impossível. Um time de primeira divisão te absorve as energias", disse em entrevista à agência EFE, em 2012, quando foi contratado pelo Valencia.

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A maioria das fotos do livro de Valverde foi tirada durante os tempos em que ele comandou o Olympiacos. A fotografia era usada como forma de fugir da solidão, já que sua família ficou na Espanha enquanto ele estava morando em Atenas, capital grega.

"As imagens de Valverde mostram um mundo que não é um lugar, não é casa, não é país. São lugares como hotéis, aviões, ônibus, campos de futebol, zonas turísticas e, no geral, lugares solitários em que qualquer pessoa se sentiria sozinha", descreveu o escritor espanhol Bernardo Atxaga, que assina o prefácio da publicação do técnico do Barça.

ESPN

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Postado por REDAÇÃO JINEWS

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