Página no Facebook “arruma” letras de músicas machistas
Criciúma (SC)
O trecho “Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela”, virou “Vacilou né, fazer o que? Dependendo do tamanho do vacilo, a gente termina numa boa”. Essa foi uma das correções que a paranaense Camila Queiroz fez em sua página no Facebook, a “Arrumando Letras”.
Camila, formada em direito, conta que a ideia surgiu em uma conversa entre amigas, “A página surgiu de uma discussão aqui em casa, de como o machismo estava presente na sociedade e nem sempre percebemos isso. Na oportunidade, falei sobre as músicas que a gente vive cantando e não presta muita atenção no conteúdo”, comenta.
Após isso, a advogada resolveu corrigir algumas músicas e postou em um grupo privado na rede social, onde rendeu mais de dois mil likes. “A galera desse grupo manifestou a vontade de compartilhar essas letras no perfil deles. Então, fiz a página”, lembra.
Com um mês de criação, a página possui mais de 200 mil curtidas e Camila já corrigiu mais de 20 músicas. O estilo que predomina na página é o sertanejo, “Começou com sertanejo universitário, não porque o estilo se sobressai aos outros no quesito ‘letras machistas’, mas porque eu tive muito contato com esse gênero durante a adolescência, pois cresci em cidade pequena”, confirma. Camila nasceu em Capitão Leônidas Marques, no Paraná, mas atualmente reside em Curitiba.
Artistas como Zeca Pagodinho, Guilherme e Santiago, Drake, Roberto Carlos e até os Beatles já tiveram letras corrigidas por Camila. “Minha intenção não é atacar quem interpreta as músicas e nem quem ouve. É apontar o preconceito escondido naquela letra”, conta a advogada.
Machismo na cultura
Vitória Souza, estudante e integrante do Coletivo Feminista Antonieta de Barros, de Criciúma, diz que o machismo ainda está presente em muitas músicas, “As músicas são parte da cultura e sendo assim, estão incrustadas no machismo. Ao passo que elas são construídas, contribuem na construção do machismo, perpetuando-o e naturalizando. Ou seja, as letras machistas legitimam ações dos machistas que nos cerceiam”, reforça a participante.
Camila conta que muitas pessoas ouvem as músicas e não se dão conta do conteúdo, “As pessoas leem as correções e comentam: ‘Eu amo essa música nunca tinha reparado na letra!’ e pronto, continuam ouvindo a música mas reparando que aquela atitude narrada é problemática”, relata. “Eu não estou aqui para censurar ninguém e sim para fazer pensar. A decisão de continuar ouvindo é da pessoa. Acredito que é por abraçar e não excluir as pessoas que a página dá certo”, finaliza Camila.
TEXTO/ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
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