Forquilhinha reza pela alma de Dom Paulo Arns

Criciúma (SC)

Do alto de sua janela, a poucos metros da igreja matriz Sagrado Coração de Jesus, em Forquilhinha, ela escutou e rezou junto àqueles que participaram da missa em sufrágio da alma do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, cujo corpo está sendo velado na Catedral da Sé, em São Paulo (SP). A religiosa das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, Irmã Hilda Arns, 90 anos, preferiu o recolhimento de seu quarto, na Casa Mãe Helena, para dedicar suas orações à memória póstuma de seu irmão. “Acompanhei toda a missa. Sentei no meu quarto, onde enxergo o altar. Fiquei das oito até que a missa acabou. Assisti tudo, pois não conseguia ir para lá, devido ao AVC”, apontou para o corpo com os limites da idade tão inversos à lucidez. “Coragem e força para todos”, disse ela, com olhar sereno e tom lúcido, quando milhares de pessoas lamentam a morte do líder religioso.

Missa recorda grande legado de Dom Paulo

Às 08 horas de hoje (16), teve início a missa, presidida pelo Bispo da Diocese de Criciúma, Dom Jacinto Inacio Flach, concelebrada pelos freis franciscanos da Paróquia e por outros padres diocesanos. “Queremos nos unir a todas as preces da Arquidiocese de São Paulo e ao povo a quem Dom Paulo fez tanto bem”, disse o Bispo ao fazer sua intenção na missa.

Dom Jacinto disse que Dom Paulo Arns marcou a história da Igreja e do país e destacou sua luta, humildade e simplicidade, que o fizeram próximo do povo. “Nós queremos lembrar, sobretudo, desta pessoa que doou sua vida para a Igreja. Toda a vida foi doada num sentido muito especial, de testemunho. Como hoje nos fala o Evangelho, Jesus dá seu testemunho pelas obras. As palavras, as teorias ou ideologias são algo que até podem impressionar, num primeiro momento, mas o que sustenta, mesmo, a vida de uma pessoa, é o seu testemunho, sua coerência no dia a dia de sua vida. E é isto o que fica na história. Nós sabemos que Dom Paulo viveu numa época não muito fácil, nem na Igreja nem fora dela, onde teve que lutar por tantos para a liberdade e pela democracia. Este legado que ele nos deixa deve ser um estímulo para todos nós continuarmos nossa missão e nunca pensar que não temos nada a contribuir”, frisou o epíscopo.

Dom Jacinto recordou um dos maiores legados da trajetória de Dom Paulo, ao lutar pela vida de muitos que sofreram com a repressão durante a Ditadura Militar. “Ele, muitas vezes, não teve medo de se colocar frente as autoridades da época e pedir para que liberasse pessoas que, a gente sabe, não teriam vivido se não fosse a presença dele, a autoridade que exercia, tão positivamente, a serviço das pessoas, não olhando a fé delas”.

Homenagens

O final da missa foi marcado pela homenagem da Pastoral da Criança, através de Irmã Marinês Rech e de outras líderes, que ergueram um cartaz com a foto do cardeal. “Graças a Dom Paulo, nasceu, na Igreja, a Pastoral da Criança. Se ele dizia que "a Palavra de Deus acorda forças e nos transforma", foi por isso que, com a iniciativa de Dom Paulo, esta pastoral teve e tem uma grande repercussão no Brasil e no mundo. Ele merece, neste momento, o nosso profundo reconhecimento, ao fazer com que todas as crianças, principalmente as menos favorecidas, pudessem ter vida e vida em abundância. Dom Paulo foi o cardeal da esperança e a Pastoral da Criança vive e trabalha a serviço da vida e da esperança”, disse a religiosa, que conclamou a assembleia a dar uma salva de palmas em sua homenagem.

O pároco de Forquilhinha, Frei Ivo Müller (ofm), expressou gratidão, em nome da Paróquia, à família Arns, por ter oferecido à Igreja o religioso e pelo exemplo de acompanhamento e incentivo em sua vocação. Frei Ivo também agradeceu a iniciativa do Bispo em celebrar com a comunidade e a presença de presbíteros de outras paróquias.

Entre os familiares presentes na celebração, esteve o sobrinho de Dom Paulo, Adalberto Arns. Ele é um dos poucos que permaneceu na cidade, sendo que a maior parte da família Arns hoje reside em Curitiba (PR). Adalberto recordou a última vez em que o Cardeal esteve em Forquilhinha, há mais de dez anos e que, na ocasião, foi seu motorista, cumprindo-lhe o desejo de levá-lo para rever antigos pontos da cidade. “O que mais me marcou nessa visita foi que ele quis ver o rio onde tomavam banho (Rio Mãe Luzia) e disse que esse rio estava morto, muito feio”, contou o sobrinho, referindo-se ao rio onde as crianças da família Arns costumavam banhar-se e brincar, no tempo que residiam em Forquilhinha.

Adalberto, lembrou de mais um desejo do tio: “Ele disse que o dia em que morresse era para batermos palmas para ele e foi isso o que fizemos hoje, aqui”.

Sepultamento

O corpo de Dom Paulo Evaristo Arns, 95 anos, será sepultado às 15 horas de hoje (16), na cripta da Catedral da Sé, em São Paulo (SP). Todas as celebrações são transmitidas pelo site http://tvultrafarma.com.br/

TEXTO: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃOFOTO: DIVULGAÇÃO