Como desenvolver habilidades determinantes para uma vida adulta?
Quando a criança começa a frequentar a escola, é necessário considerar alguns aspectos como a filosofia, a proposta, o espaço, a missão e, principalmente, o currículo oferecido pela escola, a fim de se verificar se a infância dela será respeitada quanto aos desejos, interesses e ao ritmo diferenciado de cada uma, conforme determina um dos indicadores da qualidade na Educação Infantil, de acordo com o Ministério da Educação Básica.
No livro “Uma questão de caráter”, o jornalista Paul Tough, destaca que pesquisas realizadas nos Estados Unidos, com acompanhamento da fase infantil de crianças até a vida adulta, mostraram que as notas altas e testes de QI não são mais indicadores de educação de qualidade para nossas crianças e muito menos garantia de sucesso na vida adulta das mesmas. Ele enfatiza a necessidade de nós, pais e educadores, valorizarmos capacitações não cognitivas como a curiosidade, a persistência e a determinação, entre outras.
No sentido de valoriza e respeitar a infância, é preciso oferecer um currículo em movimento, que difere dos demais currículos fragmentados por disciplinas, que contemple as dimensões da investigação, da criação, da consciência planetária, da acolhida e das relações sociais, e da religiosidade.
Por meio de tais dimensões, são exploradas as múltiplas linguagens vivenciadas e aprendidas pelas crianças como a linguagem corporal, musical, visual, artística, ética e estética. Para um currículo que valorize e respeite a infância se efetive, é necessário criar espaços de aprendizagem, com a intenção de proporcionar o desenvolvimento integral da pessoa, de modo a se atingir o objetivo das múltiplas linguagens, com ambientes que levem os estudantes a situações diversas, cuja finalidade consiste em contemplar a integralidade da infância, bem como formar bons cristãos e virtuosos cidadãos, conforme ressaltava Padre Marcelino Champagnat, fundador do Instituto Marista.
Podemos destacar um currículo em movimento, aquele que é embasado na abordagem da infância italiana de Reggio Emilia, no norte da Itália, a qual foi reconhecida, em 1991, a melhor do mundo, como uma proposta interessante a ser seguida.
Esse modelo pedagógico tem influenciado internacionalmente muitos países, pois constitui um modo de pensar aberto às dúvidas e à compreensão do erro, apontando caminhos, compromissos possíveis e potenciais para a infância, concebendo cada criança como única, forte, competente, criativa e capaz de desenvolver suas potencialidades, com uma maior tendência de se fazer também educação inclusiva.
Vivemos o conflito de determinar o que compete à escola ou à família. Precisamos ter consciência de que o nosso principal foco educacional é o aluno, o qual é o filho (a) para a família. Assim, ambas as instituições querem o melhor para esse sujeito que ora é o filho, ora é aluno. Portanto, a parceria é muito importante, fundamental e de suma relevância na fase da Educação Infantil.
Dessa forma, a educação de qualidade hoje não é apenas contar com as ideias inovadoras proporcionadas pelas escolas, mas é preciso levar em consideração o desenvolvimento da infância, reavaliar as propostas educacionais, entender como a curiosidade e a criatividade são desenvolvidas nessa fase, para, assim, resultar em uma formação sólida e consiste desse sujeito. Nesse percurso, as habilidades e competências adquiridas e desenvolvidas na fase escolar farão com que os sujeitos continuem seu processo de aprendizagem por toda a vida, determinando, inclusive, o sucesso de outras crianças na vida adulta, sejam elas os próprios filhos ou os de outras pessoas, com quem tiverem contato.
Aldivina Americo de Lima