Coluna de Elza de Mello - 3 de novembro de 2016

03 Nov, 2016 08:56:42 - Artigo

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (204)

Segundo a escritora Olímpia Soares de Farias, o povo açoriano é muito supersticioso. Acreditam em Lobisomem, feiticeiras, alma do outro mundo, espíritos e tantas outras crendices. Especialmente as almas de outro mundo que tem um dia dedicado – os Finados. E por ser o dia de Finados um dia santo especial, muitas histórias correm sobre as pobres almas em Açores ou em Içara, onde temos muitas crenças legadas por nossos ancestrais. É muito comum ouvir histórias dizendo de um parente falecido cujo espírito vem incomodar uma pessoa fazendo-a doente. E para que a pessoa readquira a sua saúde, é necessário pagar missas, promessas ou até mesmo dívida. Pois são por essas faltas que a alma do falecido está a penar no purgatório.

Se é verdade ou não a família não questiona. Sabe-se que todos tratam de pagar tais dívidas para o bem do falecido e dos familiares. Não há quem não se vá em socorro de uma necessidade de seus ente queridos. Afinal somos almas em missão e logo seremos Espírito de retorno ao Pai.

Um rito muito comum entre os povos de origem açoriana é o uso da Coberta d’alma. Logo que o féretro deixava a sala da casa onde havia sido velado, escolhia-se alguém para vestir a coberta d alma. Na missa de Sétimo Dia, a pessoa escolhida participava com os demais familiares e se tornava quase que um membro, se fosse um amigo e não um parente. E isso era um ato solene de muita importância na crença da Ressurreição. 

O fato de alguém ser muito pobre e não poder comprar uma roupa Nova, fazia com que fosse doada uma das melhores roupas do falecido para usado pelo escolhido. Era um ato de muito amor para os familiares do Defunto e para o recebedor da Coberta D alma. Afinal era uma corrente para o bem estar da Alma que se transformava em Espírito. Em minhas pesquisas, perguntei muitas vezes e para muitas pessoas o significado da Coberta D alma, e na maioria das vezes as pessoas ficavam surpresas por eu não saber. Disseram-me inúmeras vezes que a Coberta D’alma era a veste da outra vida da pessoas falecida. Se por acaso a pessoa não tivesse alguém vestindo a sua Coberta D alma, não teria a veste para o Juízo Final. O que seria desesperador ser chamado pelo Pai e ter que se apresentar Nu, não ter tido alguém para vesti-lo. 

Uma tristeza muito grande capaz de atingir até os seus familiares ainda vivos. Bem.... não costumo brincar com o desconhecido e creio que o princípio de tudo o que cremos tem uma explicação popular. Se essa prática existiu (hoje não se houve falar deste rito) é porque houve uma razão para ter existido. Essa razão tornou-se crença e, com tantas seitas e religiões, ninguém sabe de onde veio e por que existiu. Nos dias atuais caiu no esquecimento.

Outras pessoas ainda disseram que a roupa da Coberta D’alma era a mesma usada pelas Almas às primeiras horas do seu dia, o Dia dos Finados. Com uma vela na mão, para clarear a escuridão da noite, todos os mortos visitavam a sua derradeira morada, no cemitério onde foi depositado o seu corpo físico. E muitas pessoas relataram verdadeiros encontros com a procissão, embora a visão fosse clara, mas não tivesse referência do reconhecimento da Alma para com o seu ente querido vivo.

Foram historias que ouvi contar... e parece que o imaginário de nossa gente é a base mais sólida de nossas crenças ancestrais. Afinal, o que somos nós sem a esperança de um reencontro com aqueles que amamos? A vida é uma viagem, com data prevista de retorno à casa do Pai.


TEXTO: ELZA

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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