Coluna de Elza de Mello - 25 de junho/2019

25 Jun, 2019 13:46:53 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa Gente - Matizes de Açorianidade (18)

E a roda da vida a girar, nos mostra as horas de lutas e os heróis anônimos que se escondem nas dobras do tempo. É a construção do tecido social de um povo em suas origens mais remotas que viabilizam o ser e o fazer de uma cultura de base. E, nas dobras do tecido social içarense, podemos antever a cultura de base açoriana nas devoções misturadas com o profano de nossas manifestações folclóricas.

Uma das mais belas manifestações folclóricas tem o dia de hoje, dia 24/06, como de muitas alegrias e festas, são as sanjoaninas. Sanjoaninas que para nós se resume a festas juninas. Festas no plural, sim, pois os dias dos santos juninos são: Santo Antônio, o santo casamenteiro; São João, o precursor de Cristo; São Pedro, o Chaveiro do céu e São Paulo, o convertido ao Senhor. E são João é também o anunciador do verão, na Europa e do inverno, na América do sul. E por festejarmos cá no Brasil as sanjoaninas no inverno, há todo um cardápio especial tirado da produção e industrialização da mandioca.

Pois bem, se falamos de data importante da cultura açoriana onde as sanjoaninas tem desfiles de ruas e muitas alegrias, semelhantes ao carnaval brasileiro, no Brasil a festa concentrou-se nas casas e sítios de famílias. As festas eram organizadas com uma fogueira que servia para realizar as esperadas demonstrações de coragem como pular fogueira por cima das labaredas, caminhar sobre as brasas da fogueira ou fazer pedidos a São João. Se fosse no dia de Santo Antônio então teria as sortes, para descobrir o seu pretendente, em brotos de bananeira ou de babosa, na água do poço ou nos grãos de feijão. E dizem que dava muito certo.

Um dos locais de boas sanjoaninas no inicio da colonização açoriana de Içara era no salão de baile de Francisco Cardos, o popular Chico Joca. Dizem que boas concertadas e roscas e broas de polvilho eram servidos as mães que acompanhavam as filhas ao espetáculo da sanjaonina. Assim todo o pessoal se beneficiava do café substancioso na noite fria do evento. E Chico Joca de gaita no peito, acompanhado por violeiros ou rabequistas mandavam a musica especial para moças e moços bailarem ao longo da sala. Era uma bela e sadia diversão.

Outras festas também eram realizadas em diversos sítios onde houvesse um aniversariante Junino. E as casas de Antônio Pedro Cândido, Joaquim Réus, Pretestato Cabreira, Alfredo de Lagos, João Fortulino da Silva, Donilio Esteves, Antoninho Lima entre outras casas de família, organizavam lindas e espetaculares festas sanjoaninas.

Depois as festas passaram a ser desenvolvidas para ajudar nas despesas de uma escola, uma sociedade, alguma coisa que precisasse de arrecadação ou para fins beneficentes. As festas adquirindo um aspecto comercial e o folclórico ficou sendo esquecido. A multiculturalidade que formou o povo içarense trouxe outros costumes e outras manifestações e o verdadeiro sentido das sanjoaninas, que era integrar as pessoas a um evento de lazer e congraçamento foi substituído pelo interesse do lucro.

Hoje nosso folclore sanjoanino é anônimo, mas em Açores, especialmente na ilha Terceira, há uma variedade de desfiles e as ruas cobertas por decorações são palco para os grupos de foliões que transitam com muita graça e lindas alegorias, fazendo as alegrias das sanjoaninas.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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