Coluna de Elza de Mello - 24 de janeiro/2019

24 Jan, 2019 09:10:19 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE – MATIZES AÇORIANOS (3)

A data de 24 de janeiro nos reporta a uma personalidade católica e literária de muita influência ao Brasil. É o dia de falecimento  de Frei José de Santa Rita Durão, nascido em  Cata Preta, nos arredores de Mariana, em Minas Gerais, em 1722 e falecido em Lisboa em 1784. Foi um religioso agostiniano luso-brasileiro, orador e poeta que fez a sua carreira e escreveu a sua obra em Portugal e no Brasil colonial. É considerado um dos precursores do indianismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira obra narrativa escrita a ter, como tema, o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Luís de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos (árcades). Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra e, em seguida, lá ocupou uma cátedra de Teologia.

Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de vinte anos, até a queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a "viradeira" (queda de Pombal e restauração da cultura passadista) e a sua principal atividade passou a ser a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morreu em Portugal, em 24 de janeiro de 1784. Quase a única obra restante escrita por Durão é seu poema épico de dez cantos, Caramuru, formado por oitavas rimadas e incluindo informação erudita sobre a flora e a fauna brasileiras e os Índios do país, apresentando as cinco partes da epopéia tradicional (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo). Este poema é um tributo do autor à sua terra natal. Segundo a tradição, a reação da crítica e do público ao seu poema foi tão fria que Santa Rita Durão destruiu o restante de sua obra poética.

O poema épico “Caramuru” (1781) foi dedicado a D. José I, a quem solicita atenção ao Brasil e aos indígenas. Para realização de sua obra pede inspiração a Deus. Do ponto de vista histórico, o poema tem importância pelo destaque que dá à natureza brasileira. Conta a lenda que Diogo Álvares Correia, tendo naufragado nas costas da Bahia, com outros viajantes, foi recolhido pelos índios tupinambás. O cacique deu-lhe como esposa a filha Paraguaçu, mas Diogo Álvares Correia decide não se unir a ela antes de oficializar o casamento na Igreja Católica. Resgatado por um navio francês, Diogo embarca para a França levando Paraguaçu que vai ser batizada para enfim, se casar com ele. 

A manifestação poética de Santa Rita Durão, expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16 até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da corrupção. O Arcadismo no Brasil é diferente do europeu. Em primeiro lugar, usa a paisagem mineira como cenário bucólico, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem iluminista", que não existe nos poemas europeus. Outra característica é a sátira política à opressão portuguesa e da corrupção colonial. 

Dia  24 de janeiro nossa gente reverencia Frei José de Santa Rita Durão, primeiro erudito nascido em terras brasileiras e a cantar nossas belezas naturais e o valor de nossa gente brasileira.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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