Coluna de Elza de Mello - 23 de agosto de 2016

23 Ago, 2016 14:45:57 - Artigo

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (176)

E mais um final de semana festivo passou pela comunidade de Sanga Funda. A festa da padroeira da comunidade, Santa Rosa de Lima, é motivo especial para ser festejada. Até porque foi muito lembrada pelo padre celebrante, o Pároco da capela de São Roque de Timbé do Sul quando ele mencionou o nome de Pedro Guglielmi, o doador da imagem de nosso orago. Com a imagem e a sua devoção, seu Pedro doou um patrimônio histórico para Sanga Funda, mesclada pela união da fé e do zelo pela nossa padroeira local. Um fato que será, com certeza, inesquecível aos sangafundenses.

Na véspera também tivemos a visita de uma religiosa da paróquia São Donato, da cidade de Içara. A irmãzinha falou com muita propriedade sobre a Assunção de Maria e os dogmas marianos. Foi uma verdadeira catequese aos presentes. Fiquei encantada com a sua participação.

A sua presença me trouxe a lembrança de meu primeiro encontro com uma religiosa. Era bem criança quando as irmãzinhas do Divino Zelo chegaram à Mineração de Içara. Uma presença tão diferenciada que estava vendo pela primeira vez em minha vida. E ali, na operária mineira, acompanhei com carinho a presença e o trabalho social das irmãs. Vindas de longe elas levantaram a construção do que conhecemos hoje como o Colégio Cristo Rei, na cidade de Içara para onde mudaram. A exemplo de Santa Rosa de Lima, mulheres que deixam gravado a sua ação social na comunidade onde se fazem presentes.

Na noite chuvosa e fria de sábado, com pouca presença na capela, o culto ministrado por nosso seminarista da paróquia São Miguel e pela irmãzinha trouxe uma luz diferente ao ambiente preparado com esmero por nossas zeladoras. Foi muito bom!! Meus netos se apresentaram angelicais e pareciam tocados pela atmosfera sacra.

Depois da missa, o almoço, a conversa com vizinhos e parentes e voltar para casa. Não há mais uma diversão preparada para prender a juventude local. Alguns jovens almoçam em família outros nem aparecem na festa. E o evento social maior de uma comunidade passou a ser para os mais idosos e os pais de família que levam suas crianças. Mas é a festa do padroeiro o maior encontro de compartilhamento de uma comunidade. Vale a pena ser preservado.

E de lembrança em lembrança penso em minhas entrevistas quando em 1980 percorri todas as localidades conversando com as pessoas e buscando fundamento para a publicação de meu livro. Dona Percília, na época esperando festejar o seu nonagésimo aniversário, falou-me como eram as festas de Urussanga Velha. Uma saudade eterna para ela. Era motivação para um ano interiro de trabalho quando a família já fazia as suas lavouras planejando a aquisição de roupas para a festa do padroeiro. Depois vinha o trabalho no tear e na almofada de bilro para obter a renda ou o entremeio mais fino para a guarnição das combinações e anáguas. O potencial econômico da família se conhecia pela apresentação na festa do padroeiro. Bons tecidos e bons calçados era uma aquisição importante para essa apresentação social.

Receber bem os convidados era o convite para a festa do ano seguinte, especialmente as caravanas de famílias que se deslocavam de outros lugares na grande gleba das sesmarias litorâneas. E se as comunidades eram distantes, os visitantes levavam três ou quatro dias em idas e vindas, mas o importante era prestigiar a festa do santo padroeiro. A igreja era o marco de civilidade e a festa, um ato social dos mais importantes para a juventude. Não há localidade que não lembre as festas passadas com uma nota de saudades. Só quem viveu sabe avaliar o hoje no reflexo do ontem. Até porque o hoje é o resultado do que foi vivido ontem, são as marcas de quem viveu e fez acontecer a vida social.


TEXTO: ELZA

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


Cooperaliança
coopercocal