• Coluna de Elza de Mello - 21 de novembro/2017

Coluna de Elza de Mello - 21 de novembro/2017

21 Nov, 2017 10:11:18 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa Gente (233) 

E como tratamos de nossa terra e de nossa gente nesta coluna semanal, não poderia passar sem falar de uma filha ilustre de Içara, da senhora Derlei Catarina de Luca. Sobretudo no momento em que no Brasil seus filhos cruzam os braços e assistem aos desmandos de um governo que derruba os direitos adquiridos de uma nação inerte. Depois de saírem às ruas em passeatas e quebra-quebra do patrimônio e de bens sociais, proclamando palavras ofensivas a uma Presidenta deposta com a anuência do povo que serviu de marionete aos interesses burocráticos e internacionais. Falar de Derlei Catarina de Luca é falar de uma mulher que sempre lutou contra os interesses que hoje tomam vulto em nossa sociedade e o povo baixa a cabeça como se tudo isso fosse democracia, a palavra mais usada e desejada em um regime governamental.

Derlei era quase uma menina quando entrou para as lutas de classe. Quando acompanhou as greves que se instauravam na região carbonífera. Quando os mineiros que geravam a riqueza da região tinham suas vidas gastas no trabalho pesado, e as família abrigadas em casinhas construída entre os poços de mina, no chão de pirita que exalava a poluição e as doenças que ceifaram tantas vidas infantis e levaram tantos jovens a óbito. Derlei Catarina era a menina mulher que fraternalmente se punha na luta pelos direitos sociais de seus irmãos, independente de laços de sangue. E quando a ditadura militar se instalou no Brasil ela buscou o engajamento na militância da Ação Popular (AP)

Jovem e muito linda, poderia ser uma mocinha alheia às lutas sociais e ter a sua família construída na cidade que a viu crescer brincando com outras meninas de sua idade, suas irmãs e primas. Mas o germe da justiça, a luta pelo sentimento de igualdade social estava presente em sua consciência e Derlei Catarina não cruzava os braços para este pecado social. O trabalhador merecia a recompensa de seu trabalho. Merecia ter a sua família abrigada, alimentada, tratada, educada e protegida em tuas as eventualidades. Era uma jovem que pensava diferente. E se pensava, agia, ia a luta, buscava adesão de outros iguais não importava a distância para ver seu sonho de igualdade e de fraternidade sendo vivido.

Pequena no porte, grande na alma, Derlei Catarina era uma jovem mãe quando fisicamente pagou pela fúria dos poderosos e sofreu todo tipo de tortura. Foi presa, barbaramente torturada em extenuantes sessões até o coma. Levada ao hospital para ter um laudo medico justificando a causa mortis, acabou vencendo e despedindo-se do filho, fugiu para o exílio de onde voltou quando foi sancionada a Lei da Anistia no Brasil. E em solo brasileiro teve novamente uma bandeira de luta, o reconhecimento dos mortos e desaparecidos na ditadura, fundou o Comitê Catarinense Pró Memória dos Mortos e trabalhou arduamente por essa nobre causa enquanto em sala de aula dava o seu melhor como professora.

Derlei Catarina partiu vencida por uma doença e nunca vencida pela descrença de seus ideais. A prisão e a tortura, as agruras do exílio, saudades temporária do filho e da família, saudades telúricas e as dores físicas e da alma não venceram-na. Venceu-a a doença. Mas fica para nós brasileiros e especialmente para nós içarenses a certeza de que ela será eternamente o símbolo da resistência das lutas sociais, a voz feminina que as adversidades não calaram. E mesmo que tenha silenciado agora, seus livros falarão por ela.

Vai Derlei Catarina, Deus te resgatou. Ele sabe que a hora era propícia....

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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