Coluna de Elza de Mello - 20 de março/2019

20 Mar, 2019 08:57:05 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE – Matizes Açoriano (8)

Dia 15/03/2019 foi um dia diferente, um dia em que não é costumeiro em minha vidinha simples e pacata, nesta comunidade rural. Mas foi um dia também especial. Não fazia ideia de como seria este dia em que seriam homenageadas 15 mulheres içarenses. Se viesse da Câmara de Vereadores, do NEA, da Igreja, da Escola  ou de outro órgão certamente eu não faria objeção. Mas como veio do  MDB Mulher, eu não senti-me confortável para encarar a homenagem da qual recebi o tão belo convite. E as mãos que trouxeram-me o convite, eram mãos especiais, mãos de uma pessoa que admiro e a qual tenho imenso carinho.  Mas o receio de não me sentir bem tolhia minha ação e levava-me a inercia. 

Relembrava o final de minha infância, época do Golpe de 1964, quando ia a escola e nossas vizinhas nos perguntavam  se o meu pai já havia sido preso. E quando afirmávamos que nosso pai estava trabalhando, elas retrucavam que hoje ou amanhã ele seria preso e enviado à Ilha das Cobras. De lá não teria chance de escapar e era muito bem feito já que meu pai era comunista. Ficávamos (nós irmão) muito assustados. O medo nos perseguia e só quando víamos o barulho das patas do cavalo, e nos certificávamos de que meu pai havia retornado do trabalho, é que tínhamos alivio de nossa tensão. Mas assim mesmo nosso sono era recortado por sonhos negros, devido ao medo de ter nosso pai preso.

Depois fomos morar na cidade de Içara, Meu pai continuou a trabalhar como mineiro enquanto estudávamos no Ginásio Normal Dom Jaime de Barros Câmara, e minhas duas irmãs menores entraram para o Grupo Escolar “Antonio João”. Nossas vidas seguiam serenas embora vivêssemos a época da Ditadura Militar. Os governos se sucediam e a vida seguia na cidade recém-emancipada. Içara já era município. E logo que adquiri idade eleitoral, filiei-me no MDB. Fui Secretária do Subdiretório  de Pedreiras e Presidente da Ala Moça, um movimento jovem que trabalhou em prol da campanha de José  Antônio Dal Toé. Meu pai era militante do MDB, adversário da ARENA, e eu sempre fui presente em reuniões e trabalhos de filiação, visitas e campanhas eleitorais. Quando casei precisei ficar em casa com meus filhos e só na década de 90, voltei a militância partidária. Éramos  fundadores do partido de oposição e tínhamos, além de ideologia, uma ética partidária muito evidente. E esta ética nos fazia ser respeitosos com a oposição e fraternos com nossos partidários. Mas quando o partido que fundamos passou a fazer alianças e partilhar as secretarias como moeda de troca, independente  à ética, decepcionei-me com o meu partido e toda a ideologia partidária morreu dentro de meu conceito.  E nunca mais havia sido convidada para eventos, festas e homenagens. Este foi um convite inédito e não pensei que pudesse estar presente.  

Foi na tarde do dia da homenagem que minhas filhas cuidaram para que eu não declinasse ao convite da bela homenagem. E como guardiãs de minha vontade, elas fizeram-me comparecer ao amável compromisso. Foi bom rever algumas pessoas que conheci como PMDB e outras que sempre estiveram em outras siglas partidárias, mas foram homenageadas como mulheres içarenses que se destacaram. Aí fiz as contas e percebi que faltavam: Maria Luiza Duarte, Maria Cacilda Medeiros, Maria Helena Hilse, Tereza Brocca, Osaide Rabello Roussenq, Tiza Fernandes Pacheco, Custodia Oliveira Lima.... entre outras ausências que talvez ninguém percebia por desconhecer seu trabalho de mulher do MDB. Talvez até a presidente Eliana desconhecia.

Mas foi uma linda homenagem. Parabéns as homenageadas e a todas as mulheres içarenses!

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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