Coluna de Elza de Mello - 2 de julho/2019

02 Jul, 2019 17:10:39 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa Gente - Matizes de Açorianidade (19)

É nas lonjuras do tempo que vamos encontrar nosso patrimônio humano, quase sempre encoberto na névoa do tempo. Quem mais fez pelo lugar, geralmente, é encoberto pela névoa do esquecimento. Somente o verdadeiro historiador tem o zelo de registrar fatos e feitos sem querer ocupar o lugar desses heróis anônimos. E pela linha de seus pensamentos e pela ação de seu trabalho podemos conhecer um pouco de nossa história verdadeira. Hoje quero registrar a família Silva. Porém, reconhecendo que Silva é um apelido muito usual em qualquer parte do Brasil, vou reportar-me a família Estêvão Silva.

A família Estevão Silva que ocupou a sesmaria que deu lugar a localidade de Lagoa dos Esteves é descendente dos casais açorianos que ocuparam Santa Catarina durante a distribuição das datas de terras para a colonização açoriana. Logo foram imigrantes açorianos e, como determina a memória de seus descendentes, família da Ilha de São Jorge. E a memória de São Jorge foi preservada com muito carinho por seus filhos em construção de uma vida sócio econômica em um país distante de sua saudosa ilha.

Foi às margens de uma piscosa lagoa que três irmão Esteves, como ficou sendo grafado posteriormente, fincaram suas raízes e cultivaram sua fé. Ergueram uma rústica capelinha acima do morro, de onde se avistava e era avistado pelo caminho do mar, araram as terras areentas, e iniciaram o cultivo da mandioca. Ao lado de casa ergueram um engenho para produzir a farinha de mandioca e colocaram as canoas na água para a locomoção pois, sem estradas, o caminho de entrada e de saída na localidade era feito através das águas. É preciso recordar que a barra do Araranguá nessa época, ligava-se com a lagoa dos Esteves.

E este detalhe que hoje é desconhecido, é a explicação para que parte da cidade de Barra Velha esteja em território de Araranguá. Além da família Esteves Silva, outros apelidos, ou sobrenomes de família surgiram na localidade. Alguns por estarem unidos a família por matrimônios como : Mello, Teixeira, Cabreira, Oliveira, Espíndola, Viana, Arceno, Vieira, Fernandes, Godinho... entre outros. E por estarem isolados, no inicio de sua chegada, e contrair matrimônio entre seus familiares, quase não tiveram filhos e adotaram e dotaram várias crianças. E essas crianças foram espalhando-se
por outros localidades, outros Estados, especialmente o Rio Grande do Sul, construindo e
reconstruindo a cultura de base açoriana herdada em casa paterna. Voltavam a cada ano para
festejar o Santo de devoção da família, São Jorge.

E a festa aos moldes de seus ancestrais cultivou durante muitos anos: a tourada de boi à corda, ou boi na vara, como costumavam dizer; os bailes de brancos e de morenos em salão distintos; as novenas com muitas prendas e remates e a procissão de cavalhada, após a missa festiva, ainda hoje cultivada. A festa religiosa servia para reunir os descendentes à casa paterna. Sob a liderança da família Esteves foi construída a capela de São Jorge e o Cemitério local que testemunham sua passagem pelo local. O patrimônio foi sendo partilhado em heranças e
adquirido por outras pessoas. Na década de 70 o Campestre Iate Clube Lagoa dos Esteves ocupou uma parte do patrimônio da família Esteves. Hoje sobe a denominação de Vila Suíça continua sendo um condomínio de famílias abastadas.

Ali próximo está o condomínio Ponta da Lagoa; Resort Bonguavilli; Parking Verde; Lagoa Azul. As margens da lagoa então os sítios de
pessoas mais abastadas que procuram os ares mais puros e o sossego de Lagoa dos Esteves,indiferentes as lutas, labutas e ofensivas ocorridas durante os 270 anos de presença açoriana em Içara. Aos Esteves Silva, entre outros Silvas, o carinho de nossa terá e nossa gente.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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