Coluna de Elza de Mello - 2 de agosto/2019

02 Ago, 2019 09:22:51 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa Gente Matizes Açoriano (21)

Penso....penso e penso. Cada um tem o seu caminho que deve ser sem apegos, sem discussões ou dependências. E o caminho é construído todos os dias, todas as horas, minutos e instantes. Cada um de nós buscamos a consciência daquele meio caminho, já andado por nossos ancestrais, que se tornou o grande legado em nossa vida. Para isso burilamos diariamente com paciência e amor, os dias de nossas vidas onde cada história, palavra e imagem tem significado.

Gosto de andar pelas ruas sentindo o palpitar da vida humana e reconhecer sua contribuição na paisagem geográfica de minha cidade, além das naturais, agraciadas pelo Criador. E porque vivi uma época em que a cidade tomava formas e características urbanas, passando de uma pequena vi-la às margens da estação ferroviária onde as filas de carros de bois levavam a farinha de mandioca dos engenhos para os paióis dos atravessadores, sei que tenho uma memória pictórica diferente da atual. E esta memória vem povoada pelas pessoas que transitavam, trabalhavam e viviam o dia a dia na contribuição econômica e social de nosso município. Mas uma lembrança que me acompanha em todos os sentidos de minha vida é a Mineração de Içara, atual Bairro Aurora (Mineração). Lá era o polo de nossas vidas como família de mineiros. Na época, os mineiros eram geralmente os lavradores sem terras, que trabalhavam como agregados de donos de grandes terrenos de plantios; afros que ficaram livres das algemas mas sem terras para o trabalho.

Quem tinha boas propriedades continuava na lavoura, não se aventurava aos trabalhos de extração do carvão em uma frente de trabalho insalubre e perigosa. Até então a pneumoconiose era uma doença desconhecida e não se fazia o impedimento para assumir a vida de um profissional de minas de carvão.

Mas a vida social em Mineração era muito fraterna e, a exemplo das localidades litorâneas, muita amizade entre as famílias e igualdade social. Todos viviam em clima de amizade quase que familiar. Era comum  a amizade do trabalho ou da vizinhança levar a nível de compadres e comadres. O costume que era quase restrito aos familiares assumiu uma extensão de amizades de vizinhos e de companheiros de trabalho, pois geralmente o  encaminhamento era em dupla, um mineiro de extração do carvão e um ajudante que puxava a produção em vagonetes, até colocá-lo na gaiola e subir para a superfície onde a chapa colocada com o número da ficha do mineiro era marcada pelo apontador para ser recebido no final do mês. Precisava haver muito companheirismo entre a dupla de trabalhador e isto passava a ser uma amizade muito solida, para a vida inteira. Outro fato importante na convivência dos mineiros foi a politização que  esta união proporcionou. Jornais e livros com economistas e estadistas da época eram partilhados entre os letrados e interessados pelos destinos da Nação. Enquanto as mulheres tratavam de assuntos culinários ou de prendas domésticas, os homens cultivavam a politica e os esportes que sempre foi muito forte na Mineração.

Aos comerciantes da época deve-se a integração social das pessoas que tinham acesso a compra em caderneta para o pagamento do final do mês e a adesão de craques nos times de futebol local. Outra contribuição era a preservação dos folguedos de boi-de-mamão, Bandeira do Divino Espírito Santo, Cantorias de Reis e o carnaval de salão. Ali se co-locava em evidência a cultura de base cultural açoriana em  vivências e convivências familiar, religiosa e de trabalho. E havia sempre um líder que acionava ao fazer local, a  memória da ilha distante para os momentos de saudades.  

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