Coluna de Elza de Mello - 16 de maio/2019

16 Mai, 2019 09:10:24 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa Gente Nuances da Cultura Açoriana (16)

E a última segunda-feira (13/5) veio com datas cívico religiosa  muito belas. São datas que sempre trabalhei com destaque em minha prática pedagógica por considerar a relevância no contexto social. Primeiro, a libertação dos escravos com a assinatura da Lei Áurea,  por se tratar de um ato de inclusão dos afrodescendentes aos direitos civis que lhes eram negados até então - a legalização de um pedacinho de chão para morar e desenvolver a situação econômica, a agricultura. A intensão de Princesa Isabel foi sincera, tão sincera que veio o golpe militar da Proclamação da República e depôs aquela que assinou a Lei das terras que seriam partilhadas entre os afrodescendentes,  para que não houvesse a real partilha. E os lotes foram entregues aos imigrantes italianos, que vieram para ocupar a mão de obra assalariada negada aos africanos. E foi tão bem arquitetada que hoje ainda os descendentes, não contemplados pelo sonho de ter os direitos amparados, culpam apenas a mulher que per-deu o  poder para realizar o que a índole fraterna lhe apontava como dignidade, a liberdade aos construtores da economia brasileira da época. Não culpam ao golpe da Proclamação da República e nem aos mandos que privilegiaram os interesses dos barões do café e da indústria açucareira. Mas, se houve injustiça com os descendentes de escravos, houve também com a soberana da nação brasileira, que mesmo conhecendo as ame-aças da elite não excitou em fazer o que a consciência pedia.

Grande mulher!!!

Embora a escravidão em nosso município seja tratado diferentemente em outras regiões do Brasil pelo fata das sesmarias serem lotes pequenos e distribuídos a agricultura familiar, as armações baleeiras funcionaram pelos braços dos africanos. Então tivemos um contingente afro que não entrou no censo nacional, mas que foi largamente explorado em municípios que praticaram  a caça a baleia e seu produto manufaturado, o óleo de baleia em-pregado na iluminação e na construção civil da época. Os escravos de famílias trabalharam nas capinas de roçados e nos trabalhos domésticos. E as mulheres foram as que mais trabalharam em nosso município, pois desde a pila do café e do arroz, até a finali-zação do prato, tudo era feito por mãos femininas. Desde o cultivo do algodão até cardar e fiar o algodão para urdir o tear, toda confecção de roupas era feito pela mulher. E ainda estão na me-mória do povo,  mulheres afrodescendentes que deram a vida e deixaram a descendência içarense entre nós. 

Presentifico as fortes mulheres que conheci na infância : Maria Jorda;  Leacina Martins, Maria Bernarda que com a muleta (era deficiente física) dançava para vermos, conheci-a em Mineração (Bairro Aurora); Malvina, irmã de Leacina que residia em Barra Velha; Francisca de Jesus; Feliciana da Rosa, esposa de Chico Rosa que deixou a descendência de pro-fessores em Içara; Maria de Jesus, a Gandaia, que deixou a descendência de Jesus; Prudência e Bernarda que viveram com a Família Réus; Dionisia e Eva que trabalharam na casa de José Fernandes Teixeira; Quitéria, a mãe de Releta e de Nodário; tia Zefa, a anciã afro que viveu até ser nonagenária e tinha a benção dos afrodescendentes da localidade; Joana, da Lagoa dos Esteves, que deu sobrenome a geração que conosco conviveu; Infância que embalou filhos e netos. Mulheres fortes e guerreiras que viveram em seu tempo e construíram um legado importante na cultura afro-içarense e também criciumense, que migraram com as minas de carvão.

Estas mulheres afros, que calaram as devoções tribais e usaram o rosário para celebrar e orar na fé católica apostólica, tiveram em Maria a maior devoção e Nossa Senhora de Fatima, que apareceu aos pastorzinhos na cova de Íria, Portugal, era largamente devocionada em nossas localidades. Tudo irmanou-se a mesma devoção quando a Igreja administrava o Brasil em suas Freguesias.  As mulheres, mãe de todos os homens e a mãe de Jesus, o menino de Belém, nosso reconhecimento e carinho neste dia especial.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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