Coluna de Elza de Mello - 12 de dezembro/2017

12 Dez, 2017 11:02:39 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (301)

É... a vida não cessa. O grande rio tem o seu trajeto antes do mar imenso; e assim é a vida, um percorrer em busca das muitas barras que delimitam o nosso viver. É indispensável viver nossos dramas e saber que muito longa é a nossa jornada laboriosa. E mister de nossa labuta às vezes nos leva para lugares distintos de nosso torrão telúrico. Lugares que precisaremos amanhar as saudades, sossegar o coração para podermos colher os frutos de nossa labuta - a família que construímos. E diante dos limites que construímos em nosso viver, respeito e medo são duas realidades distintas, por exemplo: um atleta não deve negar os limites que possui. Porém, não pode enxergar nos seus limites o fim de suas possibilidades. Os limites são humanos, mas os desdobramentos dele podem ser superados e não abortado pelo medo da derrota.

Assim quero colocar meu final de semana em uma festa bem descontextualizada do lugar onde vivo, e tão contextualizada com pessoas unidas em uma amizade incondicional. Eu os conheci a alguns anos, quando preparava a festa dos 50 anos da escola de Sanga Funda, onde lecionava. Encontrei-o morando em Praia Grande, lugar até então desconhecido por mim, mas tão logo solicitei sua presença como ex-aluno, ele compareceu com a lista de seus colegas e nome de seu professor. Um homem muito distinto e que saiu de Sanga Funda ainda adolescente, mas com tamanha dor pela mudança de domicilio que partiu chorando as saudades antecipadas. Não se conformava com a decisão do pai em mudar residência para um lugar tão distante. Deixar os inúmeros familiares e amigos, a vida construída a alguns anos por seus avós. O consolo só veio depois que conheceu a menina que elegeu-a para a companheira de sua jornada, dona Edi. E ali, entre serras e rios, fez a sua morada; recebeu os filhos com muito compromisso e carinho; e alinhavou sua vida sociorreligiosa entre seus trabalhadores e as orações diárias ao Senhor da Vida. Para selar o ano, uma festa à Santa Luzia, a padroeira de uma capela em uma vilazinha entre os bananais, para além do rio Mampituba, já em território do estado vizinho, Rio Grande do Sul. Ali patrões, empregados e amigos se reúnem anualmente com a missa solene, um bom churrasco e uma agenda de atividades prazerosa, organizada antecipadamente. Uma festa como faziam nossos antepassados. Parece que seu Aniceto Réus guardou a receita das festas de Urussanga Velha, que frequentou quando era menino e seguia com a família em romaria. Seus avós, pais e tios eram sempre fabriqueiros de festas em Urussanga Velha, depois em Vila Nova.

Meu casal amigo está entrando em uma idade especial e, em respeito à esposa, seu Aniceto pediu socorro aos familiares para assumir o pesado no trabalho, especialmente o trabalho feminino. Foi muito bom ser recebida pela única filha do casal, usando o avental que a mãe costumava usar e determinando a cozinha no salão comunitário de Santa Luzia. É a certeza do compromisso com que educamos nossos filhos, vê-los presentes, apoiando sonhos construídos na distancia do tempo, mas que não passou despercebido dos filhos e genro. Ali estavam eles a apoiar os pais. Muito lindo!! Além de parentes de Içara e Criciúma, unidos na expressão da arte cultural com a apresentação do grupo folclórico Rancho Açoriano. O Grupo bailou as modas típicas do Minho e após, os cantadores mandaram uma bela domingueira.  Obrigada Mazo pelo zelo por seus familiares! Quem ama não encara distância e nem obstáculos para se fazer presente. 

Então, lembrei-me mais uma vez do atleta, que nunca deixa de vencer dentro de seus limites. Ele se respeita e ao se respeitar, se supera. Ele cria o seu paraíso, o lugar de suas possibilidades, e dentro desse paraíso, busca a superação constante impedindo o fracasso de seu sonho. E no último domingo, dia 11 de dezembro, éramos todos seu Aniceto Réus, e nosso coração içarense fez morada na comunidade de Santa Luzia, entre a Serra do Faxinal e os Canyons  de Praia Grande. Como não seguir a este mestre que nos dá tantos exemplos de sabedoria? Foi lindo ver gente de nossa gente florindo e plantando novas sementes em outras terras, mas com a mesma essência – o amor incondicional.       

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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