Coluna de Elza de Mello - 10 de abril/2019

10 Abr, 2019 09:07:13 - Colunistas

Içara Nossa Terra Nossa  Gente Matizes de Açorianidade (11)

Quem viveu nos primórdios da colonização de Içara (SC), integrado aos indígenas, conheceu um tempo pré-histórico singular. São fatos que fundamentaram a história contemporânea e homens e mulheres que contribuíram com suor e a cultura formando o povo içarense. Mas se conhecer todos os nomes é uma tarefa impossível nos dias atuais, sobraram os nomes mais atuantes dos fatos históricos que iniciamos na página anterior. E como sempre afirmei, escrever a história de Içara (SC) sem descrever a Família Réus é meramente impossível. Engajados em labuta e conquistas, o sobrenome Réus guarda os heróis anônimos.

Manuel Patrício Réus, o hospedeiro que dava abrigo aos viajantes que buscavam a passagem do sul para a Província e o  descanso aos animais na longa excursão. Foi Manuel Patrício Réus, que abnegadamente deixou o armazém e juntou-se aos idealistas de uma nova economia fundando a Freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens, com a Lei Nº08 de 25 de junho de 1890, a primeira emancipação  territorial em regime republicano. Foi preciso esquecer as possibilidades de Urussanga Velha para a prosperidade de Araranguá (SC), que acenava para um projeto naval, o porto que escoaria toda a produção agrícola e traria a prosperidade ao agricultor. E a frente da administração da freguesia, Manuel Patrício Réus assinava, juntamente com o vigário, como testemunha de batizados e matrimônios. O alistamento de militares também passava pela inspeção dele.

Os irmãos: Florentino Manuel Réus, Joaquim Manuel Réus, os músicos que legaram aos içarenses o gosto pelas modas dos ancestrais açorianos e a habilidade com as rabecas e violas da terra. Muito do que se preservou das modas de base açoriana, deve-se ao fato de que as portas de suas casas eram abertas para os balhos e os entrudos era muito bem vindo nos carnavais. Proprietários de escravos para a lavoura e lidas domésticas, após a alforria os ex escravos continuaram  agregados e companheiros de caçada e das rezas que mantinham a fé onde quer que estivessem.  Onde quer que as Famílias Réus se estabelecesse, pois foi a família mais migrante em território içarense, a alegria era cultivada e partilhada com muita dança e cantoria. Patrocinavam as festas dos padroeiros nas localidades onde frequentavam e as domingueiras de encontro de jovens de todas as localidades.

Cândido Joaquim Silveira e Alexandrina Souza Silveira, o casal das boas maneiras e da elegância social, mesmo em um território ermo e de poucos recursos econômicos nunca deixaram o esmero dos trajes e a elegância e boas maneiras em receber e organizar as festas de casamento e batizados. Viúva ainda bem jovem, Alexandrina conheceu a tristeza de administrar sozinha a família, mas sempre produzindo o linho fino que cultivava para tecer ternos de casamento, confeccionar as finas rendas de bilros para ornamentar vestidos de noiva e os enxovais. Nascidos em Urussanga Velha, tal foi a contribuição na construção da primeira Igreja, ainda com argamassa de conchas e óleo de baleia, que a jovem esposa solicitou ao padre um lugar de sepultamento na própria capela de São Sebastião. Seria o reconhecimento da dedicação, pensava dona Alexandrina triste ante a negativa do sacerdote ao pedido. Além de fatos para noivos, vestidos e enxovais para noivas, dona Alexandrina também confeccionava as roupas de festas de padroeiros e do Império do Divino Espírito Santo, de Jaguaruna (SC), Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora Mãe dos Homens, de Araranguá (SC).

Foram pessoas criativas, arrojadas e que viveram a frente de seu tempo que deram mais impulso ao desenvolvimento local e trouxeram visibilidade a comunidade. É preciso entender que os pilares sociais que forma a sociedade estava montado em Urussanga Velha: Igreja, Escola e Famílias laboriosas e sonhadoras, razão para o respeito de autoridades e a força para o progresso centrado nas lavouras e nos engenhos de farinha e de açúcar, a base da economia nacional.

Até a próxima edição com mais um assunto de nossa terra.  

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


EXPRESSO COLETIVO ICARENSE