Coluna de Elza de Mello - 1 de agosto de 2016

01 Ago, 2016 16:42:33 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (192)

O mês de julho nos trás algumas curiosidades que na maioria das vezes passamos despercebidos e não paramos para refletir sobre elas. Uma das curiosidades que mais me chama a atenção é as duas datas comemorativas – 25 de julho, dia do colono e 28 de julho, dia do agricultor. E você saberia definir, ou conceituar as datas em questão? Creio que não. Será que teríamos colonos em Içara para homenagea-los? Mas... na verdade, quem são os colonos que tem como data de comemoração o dia 25 de julho? E quem seriam os agricultores? Afinal são duas datas distintas.

Então, os colonos eram e são os imigrantes ou migrantes. Aqueles que se estabeleceram em um terreno inculto para desbravá-lo e cultiva-lo. Esses colonos estabelecidos no município de Içara estiveram em áreas bem delimitadas: a) as sesmarias ocupadas pelos imigrantes açorianos; b) os poloneses e italianos que ocuparam as áreas destinadas à colonização italiana.

As sesmarias compreendiam as terras do litoral para o interior do município, ou seja, da faixa litorânea até à Terceira Linha, Rua da Palha ou Segunda Linha e Primeira Linha. As denominadas Linhas faziam os limites das colônias açorianas ( duas léguas do mar para o interior). Terras incultas, matas selvagens que precisou ser desbravada pelos braços do homem europeu para o projeto da agricultura de base familiar. Trabalho escravo estava ausente do projeto das sesmarias. As famílias açorianas eram agricultoras e nos Açores haviam sido contempladas com as Capitanias Hereditárias, como no restante do Brasil. Santa Catarina foi comprada pela Coroa para o sonho de conquista das terras espanholas ao sul meridional do Brasil. Já os povos açorianos embarcaram pela necessidade de terras cultiváveis. Seus terrenos viraram lavas com as erupções vulcânicas e os terremotos que atingiram as ilhas daquele arquipélago português.

A colonização polonesa veio no bojo da ocupação italiana. Fugindo aos horrores da Primeira e Segunda Guerra Mundial, vieram semiclandestinos e irmanados pela religião católica ocuparam um espaço importante da área reservada à colonização de Santa Catarina.

A colonização italiana em Içara se fez no processo de migração. Os pioneiros que tiveram maior convivência foram as famílias que ocuparam a Primeira Linha. Essas famílias ocuparam uma área que desbravaram para suas roças e, posteriormente colocaram em loteamentos para a formação da vila que se transformou em sede do município, quando de sua emancipação. Abrangida pela área urbana, a colônia italiana e polonesa é hoje composta de bairros e loteamentos urbanos. A área das sesmarias é o maior quinhão de áreas de agrícola atualmente.

Hoje, com o desenvolvimento industrial o agricultor que cultiva as suas terras não tem merecido uma valorização como deveria. Uma atividade tão relevante não é prestigiada pelos municípios e os seus seguidores se sentem menosprezados e desestimulados a seguir a profissão dos pais.

Poucos são os que persistem no trabalho familiar. Para se ter noção do valor da agricultura na microrregião AMREC, Ailson Piva, o responsável pelo seu movimento econômico relatou que enquanto o retorno da agricultura é de 8,76%, o do carvão é de 6,16%. Um retorno não valorizado pelos administradores já que nem as estradas por onde esses produtores transitam tem os devidos reparos nos municípios. Seus filhos são até impedidos de frequentar as aulas em tempos chuvosos pela precariedade das estradas.

As mãos que semeiam e que colhem para servir as mesas de todos os cidadãos são, na verdade, mal acariciadas e sem o retorno de seus direitos. Como explicar ao jovem que a agricultura é uma profissão milenar e de valor insubstituível? Que futuro teremos se não for preservado o pão que mitiga a fome?


TEXTO: ELZA

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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