Coluna de Elza de Mello - 09 de agosto/2018

09 Ago, 2018 09:03:29 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (307)

Li e gostei, por isso repasso: ‘ a fé não tem religião predileta. Ela é absolutamente eclética, e dela pode fazer proveito todo e qualquer ser humano,’(Padre Júlio Zamparetti), e é verdade, basta observar os testemunhos de fé que ouvimos em todas as religiões. Há tantos pequeninos aos olhos da sociedade elitista, e tão grandes de fé que nos deixam pasmados. Mas se olharmos sua postura, percebemos que o maior poder está em uma fé inabalável. E a fé se torna inabalável quando é alimentada todos os dias.

Esta semana do mês de agosto, a data dedicada ao Padroeiro São Donato, observei com mais vagar a fé manifestada entre os fiéis de nossa Igreja Católica. E o que observei foi um misto de fé e de amor na exposição do ser e do fazer daquela comunidade cristã. E no centro de tudo estava a história da diáspora europeia em nosso meio, sobretudo a evolução dos 270 anos de ocupação açoriana em nosso município. É uma longa caminhada que trouxe mudanças geográficas, econômicas e intelectuais. E tudo tão evidentes, que nos embala no viés de nossa sociedade. Sobretudo com a escolha de Içara como sede do município, transferindo-se o Distrito de Aliathar Martins para a Vila onde se instalou a estação do KM47, a promessa do progresso na viabilidade do transporte da produção agrícola das zonas litorâneas. E assim a pequena vila cresceu e polarizou todas as outras localidades em seu comércio e, algum tempo depois, com as instalações administrativas instalada em sua sede municipal.

Parece que foi ontem em que a festa de São Donato era um atrativo a todas as localidades içarenses, especialmente as comunidades povoadas por descendentes italianos. Após a missa festiva, os namorados passeavam, ou proseavam planejando suas vidas futuras enquanto os nonos jogavam mora em altos brados. A roleta e o aviãozinho sorteavam as prendas coletadas pelos festeiros, e os brindes eram saudados com boas risadas pelos sortudos ganhadores.  Garotos ofereciam doces em cestas previamente organizadas pelas mães e faziam a sedução da criançada. Depois vinha a procissão pela rua principal e contornava o quarteirão. São Donato do alto do andor parecia abençoar ao povo içarense entre rezas e foguetes que subiam ao ar saudando o miraculoso. Após realizava-se a consagração aos pequenos, e alegres, talvez por um gole a mais de vinho, as famílias se preparavam para o retorno aos seus lares. Uma festa familiar em que o melhor de tudo era apresentar-se com roupas novas e os pés calçados cuidadosamente com os sapatos adquiridos por um sapateiro local. Quase sempre José João Rabelo, em Mineração de Içara dava a sua contribuição na fabricação dos sapatos. Roupas e assessórios, por alguns dias eram muito comentados entre os assuntos rotineiros. 

Tinha-se a certeza de que as famílias voltavam com a  sensação de bem estar, uma bênção derramada entre eles. Quase a mesma sensação sentida pelas famílias de origem açoriana ao receber a Bandeira do Divino Espírito Santo em seus lares, quando o cantador em suas preces rimadas pedia pela saúde, pelo progresso da pecuária e pelo sucesso das lavouras e colheitas. E porque a bênção era invocada, as pessoas sentiam-se agraciadas plenamente.

Este ano de 2018, em pleno século do desenvolvimento tecnológico, pressentia-se no ar a importância da festa do Padroeiro Municipal. Era visível a fé que nutria cada passo e cada olhar. Sobretudo quando Dom Jacinto, nosso Bispo Diocesano invocou suas bênçãos ao povo içarense. No altar, a imagem cuidadosamente paramentada pela família Mello parecia também erguer suas mão em bênçãos ao Içarense e a sua terra. Obrigada ao CAEP e demais organizadores da festa de São Donato! A fé é, realmente o que dá pode

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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