Coluna de Elza de Mello - 06 de junho/2018

06 Jun, 2018 09:39:33 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (239)

Estamos no mês de junho, época da tainha do corso, a fartura do pescador artesanal, o homem caipira. E como a tainha é a musa da maior festa do Balneário Rincão, traz-me a lembrança as minhas origens de base açoriana e a gastronomia típica do pescador artesanal como foi em meu lar. Meu pai, um exímio pescador, sempre trouxe a fartura das águas para nossa casa. E na época da tainha os melhores peixes, nós tínhamos em nossas refeições diárias. 

Outra saudade que nos traz o mês de junho são as farinhadas com o movimento do engenho, as conversas e as cantorias dos jovens que trabalhavam sempre alegres, sem reclamação e sem achar-se explorados. Trabalhar era mais que obrigação, era uma missão sagrada. A água gelada que ficava no coxo para a lavagem das raízes de mandioca, deixava as mãos vermelhas e encarangadas e as madrugadas frias não era motivo para ficar na cama, embaixo das cobertas quentinhas. A família pegava cedo mesmo depois de um serão muitas vezes entrando madrugada à dentro. Só o calor do fogo na fornalha aquecia a friagem dos engenhos onde donos de vizinhos que trabalhavam em mutirões. O engenho de farinha nos dava a fartura dos pães em massa: beijus, cuscuz e bijaícas; ou em polvilho como as tenras tapiocas, as roscas, broas  e o pão de ló domingueiro. A cozinha açoriana era  rica em gastronomia da terra.

Era também no mês de junho que aconteciam as melhores festas populares. Saídos do calendário litúrgico que impunha uma festividade sagrada e rígida aos moldes da época, sem a permissão  dos bailes de salão, no advento, quaresma e as Bandeiras do Divino Espirito Santo que permitiam os encontros, porém com objetivos de louvações e orações, com muito respeito ao Sagrado. As festas Sanjoaninas é que davam a abertura aos encontros mais liberais com os bailes na sala grande das casas das comunidades. E a casa escolhida era, geralmente, onde houvesse um aniversariante do mês com seu santo protetor: Santo Antônio, dia 13 de junho; São João, dia 24 de junho; São Pedro e São Paulo dia 29 de junho. Essas festas além de fogueiras onde os jovens realizavam algumas aventuras como pular por sobre as chamas, caminhar sobre o brasido para chamar a atenção das moças, até fazer uma gama de sortilégios tentando adivinhar o seu futuro par. A mesa farta ia desde o milho cosido, até aos mais finos doces de polvilhos ou farinha de trigo, esta mais rara de ser encontrada na comunidade e por essa razão era muito comentado a casa em que oferecia iguarias feitas com trigo. Para beber era preparado as concertadas com as especiarias mais finas e uma dose de aguardente, assim como os licores tão bem elaborados, substituídos atualmente por quentões ou ponches. Ninguém saia de uma festa em domicilio, marcado com antecedência com os convites feitos a vizinhança, sem provar as delícias caprichadas das donas de casa. Havia uma verdadeira romaria para participar desses festejos e sempre a esperança de encontro dos jovens para quebrar o isolamento da distancia que havia entre as propriedades de familiares na grande gleba das sesmarias.

A vida urbana colocou novos hábitos de trabalho e condicionou as divertidas sanjoaninas. Hoje temos as festas juninas, julinas e até agostinhas que tem como objetivo angariar fundos para escolas, entidades ou particulares. Não mais o apelo à tradição, à gastronomia típica, ao congraçamento entre vizinhos, familiares e munícipes. Tudo é feito com o intuito de exploração neste regime onde o capital é a meta principal. Onde o ter sobrepõe-se ao ser.

Mas é junho e ...recordar é viver. Parabéns a nossa gente que soube criar o verdadeiro acervo cultural em sua terra, preservando e nos legando  a bagagem trazida por seus ancestrais.   

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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