Coluna de Elza de Mello - 06 de fevereiro/2018

06 Fev, 2018 11:34:32 - Colunistas

IÇARA NSSA TERRA NOSSA GENTE (203)

Estamos vivendo o tempo de Carnaval. Na tradição luso açoriana, o Carnaval que os ancestrais, pioneiros em terras içarenses  viveram  e vivenciaram era um tempo marcado por alegrias e emboscadas sadias,  entre vizinhos, especialmente entre os jovens. Viveu-se o entrudo como a manifestação do carnaval.

O entrudo era uma brincadeira de carnaval que consistia em jogar água uns nos outros. Às vezes essa agua derramada em um transeunte, que passava a passos largos pela estrada, desviava-o de seu destino e precisava voltar para trocar de roupa. E olha que se fosse uma moça na emboscada, ela seria capaz de repetir a molha no mesmo dia fazendo-o ficar em casa. Nem todos gostavam da emboscada. Mas a maioria marcava a desforra e no próximo ano fazia a cobrança com uma molha de surpresa bem mais elaborada. Às  vezes a água era misturada para deixar marcas e impedir a pessoa de prosseguir: agua onde foram limpados os peixes, agua de carvão, agua de cinzas e até agua misturada com polvilho como a família Réus fazia para celebrar o carnaval com seus alforriados que viviam em seus terrenos como agregados.o polvilho em contraste com a pele negra deixava-os bem destacados.  Nas cidades o costume era atirar os limões de cheiro e sair em blocos pela rua, os blocos do Zé Pereira.  Mas tudo com muito respeito, marcado pela alegria dos jovens da época. Até hoje Lajes das Flores, a nossa cidade gêmea, na ilha das Flores pratica o carnaval quase aos moldes de nossa antiga tradição. Carnaval era alegria e as pessoas estavam sempre preparadas com quitutes para oferecer aos foliões que simplesmente adentravam as casas para uma rápida refeição. O compromisso era levar alegria às ruas, indiferentes aos cenários e shows que as escolas de samba produzem atualmente pagos com recursos da Cultura Popular e outros que são desviados com generosidade. Lá se vão os bons propósitos do carnaval que anunciava a entrada da Quaresma, período de respeito supremo ao sacrifício do Filho de Deus para a salvação da Humanidade.

E como os tempos atuais estão contaminados pelas inúmeras drogas lícitas e ilícitas, o carnaval passou a ser um tempo de reflexão e de reclusão para quem fica a observar os meandros da festa que simboliza o Brasil. Sambistas que ostentam  os passos na avenida, marcando  o samba como o gênero musical brasileiro e a sua ação como um festival de alta qualidade. E isso passou a representar o Brasil e os brasileiros em todos os continentes e países. O que o português  vestiu o indígena com o projeto de catequização e da salvação, o carnaval despe na avenida em nome da arte. E o carnaval passou a ser um divisor de águas. A maioria das ações, são para depois do carnaval, inclusive o ano letivo. Tudo é muito moroso, muito lento, muito insipido até à magia do carnaval nas avenidas, televisionadas e divulgadas ao mundo inteiro. O povo fica anestesiado no período carnavalesco e acorda mal humorado na quarta-feira de cinzas para assumir o efeito da data que uma minoria usufrui em detrimento dos direitos da maioria. Mas é carnaval, é tempo de folia. Feliz Carnaval a todos os que cultivam a tradição como um elo de saudades. Vamos brincar com consciência e fazer a alegria da data carnavalesca em nossa terra e para nossa gente. A alegria do carnaval é muito bem-vinda se for com compromisso e responsabilidade. Viva o Carnaval!!!

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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