Coluna de Elza de Mello - 05 de julho/2018

05 Jul, 2018 09:57:57 - Colunistas

IÇARA  NOSSA TERRA  NOSSA GENTE  (305)

Já é mês de julho e o frio nos deixa a tiritar por um bom tempo, nas primeiras horas da manhã. Diariamente me desloco para a localidade de Vila Nova e vou observando a paisagem entre o nevoeiro. Aqui e ali há casas e crianças que caminham ruma à escola. Quase sempre estão bem vestidas e bem calçadas, diferente dos tempos em que me deslocava para ir às aulas em Boa Vista. Bem calçadas eram as crianças que possuíam pares de sandálias de espuma, as sólidas havaianas ainda não eram desconhecidas. Ou quem tinha tamancos, que mesmo desconfortáveis, era o que amenizava a friagem das geadas que cobriam os caminhos de chão ou os pastos que muitos precisavam atravessar para chegar até a escola. As pessoas possuíam tão poucos recursos naquela época. Mas a vontade de vencer, os sonhos de um futuro melhor dava motivos para vencer as dificuldades e até mesmo de destacar-se entre os colegas. Havia os que não gostavam de sair de sua zona de conforto e não buscavam avançar além de seu contexto familiar. Queriam seguir os passos dos pais, e seguiram com boa conduta e sangue novo na lavoura, na pecuária e nas lidas rurais. Foram construtores de um tempo memorável para Içara.

Penso que as cantigas de roda de minha época precisam ser registradas como patrimônios culturais para não desaparecerem de vez. E quando penso assim me dou conta das muitas ciosas materiais que conheci e que já não existe mais. Desapareceram da paisagem como se nunca houvessem existido. E a nostalgia trouxe-me ao sentido  a caixa de embarque do carvão e toda a malha ferroviária onde se fazia as manobras dos vagões durante o embarque,  as casas de turma dos ferroviários que habitavam-nas com suas famílias, a estação e a caixa d’agua que abastecia a maria fumaça. Cheguei a sentir o barulho e o comando dos homens no trabalho diário. Quem passa pela estação rodoviária de Içara não pode imaginar o mundo diferente que ali existiu. Embora a paisagem tenha trazido outros  desenhos projetados em uma outra época, somos eternos saudosos de outras vivências.

Foi com a professora Julmara, que leciona Artes na Escola em que trabalho, que pude deglutir e exprimir meu amor telúrico ultimamente. Como ela desenvolve um belo projeto sobre patrimônios içarenses, dispus-me a caminhar a pé, pelo centro de Içara, e viajar nas saudades de minhas 60 primaveras de vida e partilha nessa cidade linda. Desde a casa do agente ferroviário, casa de Amaro Mauricio Cardoso e casa Salibor, três casas que marcaram minhas memórias de menina. Hoje a Praça do Imigrante e Praça da Juventude delimitam os terreiros das casas de outros tempos. Depois  Praça Santo Silvestre, que acompanha os trilhos do trem e segue adiante demarcando os paióis de depósitos da farinha de mandioca e limites de bairros. E como disse o poeta, as praças são os lugares democráticos que reúne o povo. Então, parabéns ao idealizador das praças em Içara!!

E por onde passamos observando os lugares de memória, patrimônios que as comunidades zelam com amor, pudemos observar que na zona urbana ou rural, em tudo há saudosas memórias que nos levou a muitas recordações. Foram colóquios de muito reconhecimento para quem foi capaz de deixar tais legados, no espaço social. Não há como esquecer a vontade de um povo depositada em uma sólida construção: igreja, casa, salão, museu, bibliotecas, praças, hospital, escola... entre outras que foram sonhadas e construídas com o povo e pelo povo. São bens sociais e pertencem a uma coletividade, é verdade. Mas a essência desse pertencimento está gravada em todos os sentidos: oralidade, música, fotos, gravura, registros escritos que também são patrimônio e despertam o mesmo sentimento de pertença de nosso povo.

Belos são os gestos de quem ama e mais belo é o compromisso com nossa terra e com nossa gente, repassado às novas gerações. Parabéns Professora Julmara pelo seu compromisso com a educação de nossos jovens, que será perpetuado para outros tempos e espaços, com certeza. Isso é um bem impagável e Içara te agradece com carinho.         

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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