Coluna de Elza de Mello - 04 de janeiro/2018

04 Jan, 2018 09:55:12 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (231)

O ciclo de festas natalinas está a encerrar-se com o dia dos Reis, a festa da Epifania. E com a cultura de base açoriana em nossa formação, as Cantorias de Reis, louvações sagradas para as famílias de origem açorianas, não há nada mais jubiloso do que uma Cantoria de Reis em casa de amigos especiais. Sobretudo se essa casa abriga o lar (em memória) de Hercílio Berto, o representante do troféu amigo da Cultura em Içara. Casa sempre aberta aos amigos e as manifestações natalinas que traduzem grande devoção ao Menino de Belém, o Filho de Deus feito homem. Saber receber as manifestações natalinas é crer na promessa de Deus ao seu povo e reconhecer na humildade de uma manjedoura o Rei dos reis. A fé justifica a devoção desse povo que há 270 anos, em um dia consagrado aos Santos Reis chegaram ao Desterro para colonizar, povoar e dominar todo o sul meridional à Coroa Portuguesa. E munidos com a fé e a esperança aqui fincaram suas raízes e deram suor e sangue para a sua sobrevivência.

Hoje, além da distância e das transformações sócias; do multiculturalismo e da miscigenação, nós, os herdeiros desse legado açoriano tentamos preservar a fé latente que as Cantorias de Reis e o Boi de mamão nos transmitem. Base fundamental da cultura açoriana, as manifestações natalinas produzem uma emoção muito grande em quem leva as cantorias e em quem recebe. Foi muito emocionante acompanhar a viúva de seu Hercílio esperar sentada na sala de sua casa, rodeada dos filhos, filhas e netos além de vizinhos tão especiais como seu Doroci e dizer ao filho, o Tomaz: -Abra a porta aos Santos Reis. 

E a cada verso cantado pelo Fábio Freitas e seu Grupo de Cantadores do Terno de Reis, mais emoção era acrescentado. O silencio dos presentes revelava a emoção de cada um dos ouvintes, até mesmo das crianças. Uma prática de fé, a fé da religião do lar quando o povo, perdido na grande gleba das sesmarias e irmanados aos indígenas, dono absoluto do solo brasileiro, buscava o auxílio Divino para a sua sobrevivência. E este auxílio era traduzido em graças alcançadas, especialmente quando a Bandeira do Divino Espírito Santo se fazia presente e cada cômodo da casa era abençoado, além das dependências e os animais do terreiro. E ontem para mais alimentar a fé, um Padre esteve presente e deu essa bênção a casa da família enquanto o Tomaz, representando o seu pai, levava a Bandeira à frente acompanhado da cantoria. Depois abençoou a dona da casa e eu também levei o meu neto para receber a sua bênção. Foi lindo!! Sabemos que nossos desejos são alcançados. E se desejamos coisas boas aos outros, eles são sempre retornados também a quem os deseja. Uma prática muito cuidada por nossos ancestrais e como legado cultural, precisamos disseminar esses valores em um mundo tomado pela ganância e pelo consumismo exacerbado. 

Depois o Grupo de Cantores do Terno de Reis seguiu para outro lar e nós, grupo da ACAI, ficamos a versejar e a ensaiar  para não perdermos a tradição. Queremos ter nosso grupo içarense. Não é possível que um município que nasceu embalado por cantorias e folguedos natalinos se permita a extinção de tais práticas. Foi com esse desejo que o Tomaz nos convidou e como desejos do bem são sempre abençoados, nos alegramos com a possibilidade de contribuir para a conservação dessas festas natalinas sem consumismo e sem necessidade de espetáculos, somente a fé de um bom Principio de Ano Novo a todos nós, especialmente a Nossa Terra e a Nossa Gente. Um feliz 2018!!

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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