Coluna de Elza de Mello - 01 de março/2017
IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (206)
Mais um mês se encerra para dar
espaço ao mês de março. Mês que tem suas características em todos os sentidos.
E um dos ditados mais comuns entre nossos agricultores mais antigos era o
seguinte: mês de março, tanto durmo como faço. Talvez por ser taxado como o mês
das águas (chuvas), dos mormaços e de dias mais amenos. Só que ultimamente está
sendo um prolongamento de dias de verão com calor intenso e, sobretudo, de
seca. O clima está tão quente e com tanta escassez de chuva que o gado já sofre
procurando sombra e água fresca.
Ouço a critica sobre livros
abonados e distribuídos pelo MEC aos alunos de nossas escolas públicas. E o
assunto é a permissão de vocabulário deficiente, fora dos padrões oficial para não causar constrangimento aos alunos. É
o fim mesmo da Educação Brasileira? Onde vai chegar a proposta educacional do
Brasil com o terrível nivelamento em nossas ações pedagógicas? Mas não
acreditem que é para não constranger o aluno, é sim, para excluí-lo de
concursos e oportunidades de crescimento. É mantê-lo no porão da ascensão
social como analfabeto funcional. É querer preservar escravos para os impérios
econômicos. Pobre nação!!
Segundo Rubem Alves, somos
inundados de informação e famintos de sabedoria. E daí vem Daniel Munduruku,
professor indígena, a nos dar sentido do
que seja educar com a afirmação: educar
é dar sentido ao nosso estar no mundo. Para ele, nossos corpos estão vazios
de imagens e elas precisam de nossa mente para que possamos dar resposta ao que
se nos apresenta diuturnamente como desafios de existência. É preciso alimentar
o corpo e também a alma, o espírito. Sem alimento o corpo enfraquece e morre.
Sem sentido a alma se entrega ao vazio da existência. E o vazio existencial
busca o conforto, geralmente, das drogas, dos vícios, da criminalidade. É a
desumanização do homem.
Na educação infantil indígena, é
através das histórias orais que a criança
e o jovem percebem que em seu corpo moram os sentidos de existência. É a
memória de seus ancestrais que oferece o
saber imemorial capaz de dar sentido ao estar no mundo, embalado nos ritos: canto e dança, que são expressão
da alma e comunicação e expressão de linguagens.
Para o indígena, educar é
envolver. É revelar. É significar. É mostrar o sentido da existência no
processamento da vida: a criança vive plenamente a sua idade de criança, jovem
vive plenamente a sua juventude e, assim, o homem adulto viverá a sua atuação sem
saudades de outras etapas de vida, porque as viveu plenamente. Vive-se um saber
holístico, que não se desdobra em especialidades, mas como um todo; uma unidade
integrada de humanidade.
Ah se tivéssemos esse olhar na
educação pública brasileira!
Atualmente a criança vai à escola e, no
primeiro ano não se dá o direito de aprender porque ela precisa brincar. Mas
quem afirmou que colocou-se mais um ano
escolar para a criança brincar? Porque
não trabalhar com outras metodologias, outros recursos inovadores, assegurando
o lugar da escola como um lugar de ensino aprendizagem? A educação informal,
aquela adquirida no seio familiar, é desenvolvida pelo amor, pela brincadeira
que é o fazer infantil, pela observação familiar. Mas a educação formal, a
educação escolar, ela tem suas especificidades, seus critérios, e comprometida
em um sistema com embasamento curricular, que precisa ser levado com ordem e
progresso. Aí sim podemos dizer que houve promoção com aprendizagem, e não
avanço automático sem aprendizagem. Apenas oficina de analfabetos.
ELZA DE MELLO