• As mulheres em cada tempo na opinião de Elza de Mello Fernandes

As mulheres em cada tempo na opinião de Elza de Mello Fernandes

08 Mar, 2021 17:13:33 - Artigo

Içara (SC)

Muito já se escreveu sobre as mulheres, e entre as escritas muitos poemas foram escritos e musicados, enaltecendo a mulher em seus encantos físicos. Entre os nomes que denominam uma mulher como filha, irmã, esposa e mãe, acrescentou-se o cognome – Rainha, como um destaque de seu papel no lar e, consequentemente, na sociedade.

E entre outras memórias que a mulher tem em seu papel na sociedade, está o seu perfil feminino, que faz com que sua luta seja muitas vezes fragilizada pela sua natureza subjetiva e sua tendência protetora. É fácil falar na igualdade de direitos para homens e mulheres amparados pelas leis nacional e universal. O difícil e ter esse direito respaldado pela sociedade em todos os tempos da história da humanidade. E assim como temos fases da vida, temos também fases na história que marcam o papel da mulher na sociedade, amparado pelo discurso cultural. Entretanto, tudo precisa ser refletido sob a luz do que se propõe o papel da mulher em seu contexto.

Já escrevi sobre as primeiras mulheres que viveram em nossas comunidades litorâneas e a herança cultural marcada em sua educação de base familiar. Uma época em que a educação de uma menina era somente no repasse oral, essas mulheres exerceram um papel importante na construção de nosso povo içarense. Delas veio o apoio ao marido que de forma muito primária arava as terras incultas de nossas primeiras localidades colonizadoras. Delas veio a primeira geração em terras do atual município de Içara e os cuidados com a sobrevivência de seus rebentos em um tempo tão difícil. Estava sendo conhecido o lugar, as culturas possíveis para a geração de gêneros alimentícios, os habitantes naturais da terra, os indígenas e nasciam ali filhos e filhas que já provinham de uma família com uma cultura formada, a cultura de base açoriana.

Apesar de Açores pertencer a Portugal, o seu povo foi uma mistura de muitos povos perdidos na diáspora, a procura de um novo lugar com melhores condições de vida. Assim, com uma carta de sesmarias, as famílias armaram suas habitações e tentaram refazer a sua cultura familiar com a matéria prima que o lugar oferecia. Homens e mulheres construíram o tecido social onde nascemos imersos e ainda estamos a repassar aos nossos filhos.

Tivemos mulheres corajosas nesse tempo: Roceiras, parteiras, educadoras, rezadeiras, cantadoras, hospitaleiras e cheias de amor e dedicação à família que construíram. Eram o centro da família e o apoio maior aos seus companheiros de vida. Mas, se no recinto de seu lar elas eram a alma da vida árdua e sofrida, fora do lar eram submissas aos pais, irmãos e maridos. Quem se destacava lá fora era o homem. O homem que sempre foi colocado em situações privilegiadas: possibilidade de ser alfabetizado, dirigentes das associações religiosas, eleitores e pretendentes a cargos eletivos. Cabia a esposa ser companheira e amparar suas decisões e militâncias políticas. O pai ou o marido eram as lideranças política que a mulher deveria seguir.

Em Içara vivemos o forte privilégio politico masculino. Só com a obrigação da presença feminina aos cargos eletivos, as mulheres passaram a se candidatar a uma vaga no Poder Legislativo. Tivemos como primeira vereadora eleita pelo voto, a professora Iara Amândio Martinez (PP). Outras já haviam ficado como suplentes, mas eleita diretamente pelo voto, a professora Iara foi a primeira mulher na sequência, outras mulheres também foram eleitas. Ao Executivo ninguém se aventurava. Isso era somente ao universo masculino.

Nas eleições de 2016 a professora Dalvania Pereira Cardoso (PP) resolveu quebrar esse paradigma colocando seu nome como candidata a Prefeita de Içara. Não levou êxito. Mas continuou com o mesmo propósito ao longo de quatro anos, voltando a investir em sua candidatura e, finalmente, foi eleita à Prefeita de Içara. A primeira prefeita que o povo içarense tem como chefe do Poder Executivo. Ela que foi uma menina nascida em Urussanga Velha, em domicílio paterno, que trouxe entre suas qualidades, a força de vencer os obstáculos, até então nunca enfrentado por nenhuma mulher içarense. Por essa razão, nesse dia da Mulher, Dalvania nos representa. Ela é a mulher que sempre buscou a realização de seus sonhos e nunca deixou de acreditar na força da mulher e na igualdade de direitos de homens e mulheres na politica nacional.

Parabéns Prefeita Dalvania, extensivo a todas as mulheres içarenses.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


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